COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Hélio Costa Araújo foi sequestrado na última quinta-feira (22) em Varginha. Fazendeiro suspeito do crime mantinha homem em regime de escravidão.

 

(G1 Sul de Minas)

 

As investigações da Polícia Federal apontam que o lavrador Hélio Costa Araújo, de 41 anos, supostamente sequestrado pelo ex-patrão, o fazendeiro Paulo  Alves Lima, de 59 anos, na noite da última quinta-feira (22), em Varginha (MG), pode estar morto. A afirmação é do delegado João Carlos Giroto, que está à frente do caso. “Ele pode estar morto. Não descartamos a possibilidade de assassinato e estamos tratando o caso como sequestro. Seguimos com a investigação para verificar se ele ainda está em cárcere privado ou o que pode ter acontecido”, esclareceu.

 

O principal suspeito do sequestro do lavrador é o ex-patrão, Paulo Alves Lima, que teve a prisão preventiva decretada no último sábado (24). Ele está preso e é investigado por manter trabalhadores em cárcere privado. Segundo o Ministério do Trabalho, ele é reincidente nesta prática.

 

De acordo com a Polícia Federal, houve uma falha no trabalho do Ministério do Trabalho, que demorou a comunicar a polícia sobre o resgate do trabalhor. “A Polícia Federal foi comunicada no dia anterior ao sequestro dele, mas precisamos destacar essa ação do Ministério do Trabalho que não é corriqueira. Uma vez que o lavrador foi colocado em local específico, deveríamos ter sido comunicados imediatamente, mas nossa intenção não é a imputação de um órgão ou outro, mas de verificar onde está este trabalhador”, acrescentou o delegado Giroto.

 

Questionado, o gerente do Ministério do Trabalho na cidade, Mário Ângelo Vitório, o recolhimento de trabalhadores é feito em parceria com outras instituições. “Nós tomamos as providências que nos cabia, que seria recepcionar o trabalhador, encaminhar ao hotel e garantir a alimentação. Quanto a segurança, não temos competência e nem pessoal especializado para dar esse tipo de assistência”, disse.

 

Testemunha viu quando fazendeiro sequestrou o lavrador
O lavrador foi levado do hotel por um homem identificado como o ex-patrão. Segundo uma das funcionárias do estabelecimento, que em entrevista à EPTV Sul de Minas não quis ser identificada, o homem pagou a conta do hotel e levou o trabalhador. “O homem que esteve com ele no hotel foi o Paulo Alves Lima. O trabalhador mesmo me disse, baixinho, antes de sair e pediu para que eu ligasse para a polícia, mas eu não chamei, tive medo”, contou a mulher.

 

Desde então o lavrador está desaparecido. Nesta segunda-feira (26), familiares dele foram localizados pela Polícia Federal em Betim (MG) e Pitangui (MG), mas disseram desconhecer o paradeiro do homem.

 

Imagens das câmeras de segurança da Guarda Municipal de Varginha mostram quando dois carros da Polícia Militar chegaram ao Ministério do Trabalho na última terça-feira (20), quando o homem denunciou o esquema na fazenda de Campanha (MG). No dia seguinte, as câmeras da rodoviária de Varginha registraram o lavrador caminhando ao lado de dois guardas municipais.

 

De acordo com funcionários da Secretaria Municipal de Habitação e Desenvolvimento Social, ele estava sendo levado, pela segunda vez, ao Ministério do Trabalho. Depois, ele foi hospedado no hotel no Centro de Varginha pelo próprio órgão e um dia depois, desapareceu.

 

Funcionária de hotel é agredida
A Polícia Federal investiga também a ligação entre o sumiço do lavrador e a agressão feita contra a camareira Alessandra Cardoso, de 25 anos, que na última segunda-feira (26) foi agredida e sofreu tentativa de estrangulamento por um homem dentro do hotel, no Centro de Varginha.

 

Segundo a funcionária do hotel, que falou à EPTV Sul de Minas, a jovem foi agredida e sofreu uma tentativa de homicídio. “Um rapaz entrou no hotel, pediu água e pediu para ver os quartos disponíveis, que ele iria querer um. Ela pegou a chave e foi mostrar os quartos para ele, mas ele quis ver os mais afastados. Quando entraram no quarto, ele fechou a porta e pegou no pescoço dela para tentar matá-la. Fiquei assustada, porque se aconteceu com ela também pode acontecer comigo”, desabafou.

 

Conforme consta no registro da Polícia Militar, a vítima precisou ser socorrida e levada para o Hospital Bom Pastor, onde foi atendida e liberada em seguida.

 

Já a Polícia Federal apura o caso e não descarta a ligação entre os crimes. “Estamos investigando todas as frentes, já que além do sequestro do lavrador, o fazendeiro também submetia outros trabalhadores a regime de escravidão e agora temos este último ato, que nos foi informado pela PM, da tentativa de homicídio contra a funcionária do hotel que teria sido testemunha do sequestro do Hélio”, comentou o delegado Giroto.

 

A Polícia Federal tenta também encontrar outros trabalhadores rurais, que teria fugido da fazenda onde eram mantidos em regime de escravidão. A suspeita é de que eles tenham se escondido em uma mata a mando do próprio patrão, que temia novas denúncias.

 

O caso
O fazendeiro foi preso na sexta-feira (23) em Campanha (MG) suspeito de manter funcionários em regime de trabalho escravo em uma propriedade rural do município e de ter ordenado o sequestro de um deles após uma denúncia feita à Policia Militar. Segundo a PM, Lima foi detido após cumprimento de um mandado de busca e apreensão e o resgate de dois trabalhadores.

 

De acordo com a PM, o funcionário Hélio Costa de Araújo, de 41 anos, disse ter trabalhado durante cinco meses em regime de escravidão e relatou que o fazendeiro retinha documentos pessoais dele e de outros trabalhadores.

 

Trabalhadores eram vigiados por homem armado
Antes do desaparecimento, o funcionário disse à polícia e ao Ministério do Trabalho que ele e outros dois trabalhadores conseguiram fugir da fazenda na madrugada da última segunda-feira (19) e que pretendia voltar para a cidade natal, de Nova Serrana (MG), mas não teria conseguido por  falta de dinheiro e documentos pessoais.

 

O lavrador contou que eles trabalhavam na colheita de café e corte de cana e que não havia descanso. Segundo ele, os trabalhadores eram forçados a trabalhar das 6h às 19h, inclusive aos domingos, feriados e dias chuvosos e que quando questionavam o pagamento de salário, eram agredidos.

Araújo disse aos policiais que eles eram mantidos sob vigilância constante de um homem armado que não permitia que saíssem na fazenda. Ele também contou que os colegas eram mantidos em um alojamento em péssimas condições e comida escassa.

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