COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

“A violência realmente não conhece limites na terra do agronegócio”. Por três noites consecutivas – 23, 24 e 25 de novembro – jagunços armados montaram cerco contra os Kaiowá, da Terra Indígena Kurusu Ambá, no Mato Grosso do Sul. Ao longo desses dias, os indígenas se tornaram alvos frequentes dos tiros efetuados pelos pistoleiros. Confira a reportagem do Cimi:  

 

(Fonte: Cimi)

A violência realmente não conhece limites na terra do agronegócio. A cada dia a superação da crueldade pinta em tons trágicos verdadeiros quadros de desespero, da mais pura falta de humanidade e de brutal violação dos direitos humanos. 

Enquanto Kátia Abreu simboliza o novo capítulo da histórica saga de traição do governo petista aos movimentos de luta pela terra, os laços e as relações entre governo federal e os ruralistas tratam de deixar as porteiras bem abertas para o extermínio dos povos indígenas no Mato Grosso do Sul.

Após a morte de Marinalva, jovem de 27 anos, vitimada com 35 facadas e de uma sequência de ataques contra diversas comunidades indígenas, jagunços voltam a aterrorizar o povo Kaiowá de Kurusu Ambá, Terra Indígena localizada no município de Coronel Sapucaia, no Mato Grosso do Sul, fronteira com o Paraguai.

Enquanto uma ordem de reintegração de posse ameaça retirar os indígenas de sua terra tradicional, dependendo apenas de manifestação da Polícia Federal, os fazendeiros orquestram ataques sistemáticos na Terra Indígena onde foi registrado o maior número de assassinatos a lideranças indígenas no estado.

Por três noites consecutivas, 23, 24 e 25 de novembro, jagunços armados montaram cerco contra os Kaiowá e passaram a efetuar durante toda a noite e madrugada várias séries de tiros contra os indígenas.

Com os faróis dos veículos apontados para a comunidade, os pistoleiros mapeiam a posição dos indígenas e então efetuam os disparos. A sensação, segundo Ava Jeguaka Rendy Ju, liderança da comunidade, é “que estamos sendo caçado como animais. Eles iluminam a gente com os faróis e disparam, às vezes para cima, às vezes contra nós, é assim a noite inteira”.

A comunidade de Kurusu Ambá relata que o número de pistoleiros e de veículos que os encurralam durante a noite vem aumentando e que a cada dia que passa os jagunços ficam mais agressivos, na última noite já foram mais de dez carros segundo relato dos indígenas. “Tememos pelas vidas de nossos pequenos, de nossos velhos, mas estamos gritando para o vazio, ninguém nos escuta, quando estivermos mortos talvez venham entregar os caixões”, desabafa Rendy Ju.  

É nesse contexto de crueldade e violência em que estão expostos os indígenas, no último dia 17 de novembro, uma adolescente Guarani-Kaiowá foi atropelada propositalmente por um jagunço, Jocikelle Martins, 17 anos, a indígena teve escoriações nos braços, pernas e hematomas na cabeça, ficando gravemente ferida.

Já faz meses que os indígenas denunciam os muitos grupos de pistoleiros que estão atacando Kurusu Ambá e apesar de, em determinado momento, ter havido uma determinação judicial para que a Polícia Federal e a Força Nacional averiguassem a situação e garantissem a proteção da comunidade, porém a ação nunca chegou a ser efetuada.

Contra o povo de Kurusu Ambá, existe uma determinação de reintegração de posse e a ameaça de despejo é iminente. A situação foi agravada quando a Procuradoria Especializada da Funai, que deveria fazer a defesa do caso, em nome da comunidade, cometeu um erro grosseiro e inadmissível ao não juntar em seu agravo peça sabidamente fundamental (Íntegra da decisão recorrida) não sendo, portanto, a defesa admitida. A mesma nem ao menos chegando ao conhecimento do julgador. 

Os maus procedimentos de procuradores da Funai em casos que tratam de terras tradicionais tem sido um fato recorrente nos mais diversos estados brasileiros. Nada estranho se tratando os mesmos de membros ligados a Advocacia-Geral da União, órgão responsável pela elaboração da Portaria 303 que afronta diretamente os direitos indígenas e tem sido apontado pelos povos indígenas como um grande mal a suas garantias constitucionais.

O povo Kaiowá de Kurusu Ambá faz um apelo às entidades de defesa aos direitos humanos, movimentos sociais ligados a defesa da vida e aos órgãos responsáveis, Ministério Publico Federal, Ministério da Justiça, Funai, para que intercedam imediatamente e garantam a integridade de um povo que luta apenas para garantir seu direito sagrado e constitucional de acesso à terra e a vida digna dentro de seus costumes e tradições.

A comunidade alerta que esta convicta em não sair de Kurusu Ambá e decidiu pela morte frente possibilidade de ataques e despejos. Reiteramos que se nada for feito para garantir os direitos deste povo estaremos novamente frente a mais um genocídio anunciado. 

 

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