COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

"Os índios Krahô - hoje em torno de 3.200 pessoas - são um povo, que faz parte da grande nação Timbira, vivendo em 28 aldeias nos municípios de Goiatins e Itacajá, no Tocantins". Confira artigo do frei dominicano Marcos Sassatelli sobre o ritual realizado em terras Krahô, no Tocantins, de despedida a Dom Tomás Balduino. Os indígenas guardaram luto até o último final de semana do mês de setembro, quando foi realizado o ritual.

 

(Marcos Sassatelli - jornal Brasil de Fato / fotos: Janiel Souza e Jaqueline Talga)

No último fim de semana de setembro, por três dias, os índios Krahô fizeram uma homenagem ritual de despedida a Dom Tomás Balduino - considerado por eles e elas, parente e amigo inesquecível - como finalização do luto e em agradecimento pelo seu compromisso evangélico na defesa dos pobres e, de maneira especial, dos povos indígenas.

Segundo o depoimento dos que participaram - foi uma homenagem muito bonita, emocionante, profundamente humana e impregnada de uma mística extraordinária.

Os índios Krahô - hoje em torno de 3.200 pessoas - são um povo, que faz parte da grande nação Timbira, vivendo em 28 aldeias nos municípios de Goiatins e Itacajá, no Tocantins.

Na homenagem ritual foi anunciado solenemente: “Dom Tomás está aqui. Eu vi. Uma pessoa quando morre fica entre nós, ele não foi embora. Ele está aqui. Ele está olhando por nós. São poucos os que ajudam os povos indígenas. Tem que continuar o trabalho, a luta de D. Tomás”.

 

Estiveram presentes na homenagem - recebidos e recebidas com carinho pelas lideranças da comunidade - representantes dos povos indígenas Xerente e Apinajé, diversas pessoas (da CPT, do CIMI e outras) comprometidas com as causas populares e, sobretudo, com a causa indígena, parentes, amigos e amigas de Dom Tomás, dois frades dominicanos (Ordem Religiosa à qual Dom Tomás pertencia), representando a Província Frei Bartolomeu De Las Casas, do Brasil e o bispo da Diocese de Goiás, sucessor de Dom Tomás, Dom Eugênio.

Por ocasião do falecimento de Dom Tomás, Gercília, uma grande liderança do povo, exigiu: “eu só participo do ritual na Igreja de Goiás, se depois puder fazer o ritual dele, em minha aldeia, conforme a nossa cultura”. Ela considerava Dom Tomás como tio, que, para o povo Krahô, tem - na vida da comunidade - uma relevância tão importante quanto a do pai.

Nos três dias celebrativos houve - sem nunca perder a esperança que um outro mundo é possível - inúmeros depoimentos, marcados por profunda indignação pelos preconceitos, pelas omissões e pelas violências praticadas contra os povos indígenas e contra a Mãe Terra.

“Foi muito forte ver as mulheres indígenas Krahô, Xerente e Apinajé falar para D. Eugênio do sofrimento dos povos indígenas, do impacto dos grandes projetos e do agronegócio, como a soja, eucalipto, arroz, barragens, estradas, hidrovia e ferrovia, assim como também, da precariedade no atendimento à saúde pública. E falaram como Dom Tomás sempre defendeu os povos indígenas, os ribeirinhos, os quilombolas, os camponeses e os pobres das cidades” (Sara Sánchez Sánchez. CIMI, GO-TO, 01/10/14).

Em diálogo com Gercília, numa homenagem permeada de gestos simbólicos (troca de presentes e outros) e ouvindo a cantoria ritual no centro do pátio da aldeia, foi selado o compromisso com Dom Eugênio e todos os presentes, de dar continuidade - seguindo as pegadas de Dom Tomás - ao trabalho em defesa da vida, da natureza e dos povos indígenas, na busca incansável da Terra Sem Males (cf. também: Egon Heck. Dom Tomás no ritual dos índios Krahô. CIMI, GO-TO, 01/10/14).

Quanta sabedoria, quanta mística, quanta espiritualidade e quanta profundidade humana encontramos na cultura indígena! Temos muito a aprender com os nossos irmãos e irmãs índios e índias!

Precisamos redescobrir o conceito milenar do “Bem Viver” ou “Viver bem”. “A expressão ‘Viver Bem’, própria dos povos indígenas da Bolívia, significa, em primeiro lugar ‘viver bem entre nós’. Trata-se de uma convivência comunitária intercultural e sem assimetrias de poder (...). É um modo de viver sendo e sentindo-se parte da comunidade, com sua proteção e em harmonia com a natureza (...), diferenciando-se do ‘viver melhor’ ocidental, que é individualista e que se faz geralmente à custa dos outros e, além disso, em contraponto à natureza” (Isabel Rauber, em: http://isabelrauber.blogspot.com, 22/08/2010).

Que a nossa vida seja permeada de uma verdadeira mística e de uma verdadeira espiritualidade!  É o que nossos irmãos e irmãs índios e índias nos ensinam.

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