COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

O presidente do Cimi e arcebispo de Porto Velho (RO), Dom Roque Paloschi, entregou o levantamento ao Sumo Pontífice na Cidade do Vaticano durante abertura da reunião preparatória ao Sínodo da Amazônia.

(Fonte: Ascom/Cimi com informações da Ascom/Repam(1) e Vatican Insider(2) / foto: Repam)

O Papa Francisco recebeu na manhã desta quinta-feira, 12, o Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil, publicado anualmente pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi). O presidente da entidade e arcebispo de Porto Velho (RO), Dom Roque Paloschi, entregou o levantamento ao Sumo Pontífice na Cidade do Vaticano durante abertura da reunião preparatória ao Sínodo da Amazônia, marcado para outubro de 2019.

A secretaria executiva do Cimi informa que Dom Roque transmitiu ao Bispo de Roma a preocupação da entidade com a atual conjuntura de retirada de direitos imposta pelo governo Michel Temer – caso das demarcações de terras submetidas ao Parecer 001 da Advocacia-Geral da União (AGU). Para a entidade, o desmonte da democracia em curso afeta, sobretudo, as populações mais vulneráveis e entre elas estão os povos indígenas.     

Pelo Cimi estavam presentes no diálogo com o Papa, ao lado de Dom Roque, o ex-presidente da entidade e bispo emérito do Xingu (PA), Dom Erwin Kräutler, e o assessor teológico, padre Paulo Suess. Os três fazem parte do Conselho Sinodal, composto por 18 membros – entre religiosos e leigos. Também atuam na Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), da qual o Cimi faz parte.

No Relatório, o Papa Francisco lerá que a violência contra os povos indígenas no Brasil levou a 118 assassinatos, em 2016. Ao todo, 106 indígenas se suicidaram neste mesmo ano; 735 crianças indígenas menores de 5 anos morreram por causas diversas, como desnutrição. Francisco já conhece os dados dos anos anteriores: em 2015, foram 137 assassinatos; 2014, 138. Já em 2013, quando foram contabilizados apenas os casos levantados pelo Cimi sem a ajuda dos dados estatais, foram 53.     

Esta é a terceira oportunidade em que representantes do Cimi anunciam e denunciam ao Papa Francisco a situação dos povos indígenas no Brasil. O primeiro encontro ocorreu em abril de 2014, com as presenças de Dom Erwin e padre Paulo Suess; o segundo em julho de 2017, já com Dom Roque presidindo o Cimi, e, por fim, este de hoje. Todos ocorreram no Vaticano.

Pré-Sínodo

Na Secretaria para o Sínodo estiveram reunidos na manhã desta quinta-feira, 12 de abril, os 18 membros do Conselho Sinodal e mais 13 especialistas em questões amazônicas, na abertura dos trabalhos do pré-Sínodo. O encontro de abertura foi presidido pelo Santo Padre, o Papa Francisco.

O cardeal Lorenzo Baldisseri, secretário do Sínodo, definiu a Amazônia como um jardim de imensas riquezas e recursos naturais, terra mãe de povos indígenas, com uma história própria e um rosto inconfundível. Terra ameaçada pela ambição sem limites e o afã de domínio dos poderosos.

Outro elemento, foram os novos caminhos que estão no título deste Sínodo que se realizará em outubro do ano que vem, enquanto a terra amazônica apresentada como um espaço sócio cultural que implica um duplo desafio: por um lado, um desafio para a Igreja, no sentido que a Amazônia é uma terra de missão, com características próprias que exigem caminhos novos e soluções apropriadas para inculturação no Evangelho; por outro lado, não menos importante, está o desafio apresentado pela problemática ecológica, que exige como resposta uma ecologia integral na linha com a Encíclica Laudato Si.

Os trabalhos do Conselho pré-sinodal para a Amazônia continuam até amanhã, 13, pela tarde. Os encontros contam sempre com a presença do Papa Francisco. Os documentos preparatórios, chamados lineamenta, baseiam-se no método ver, julgar e agir.

Padre Justino Rezende, da etnia Tuyuca, era o indígena presente: missionário salesiano há 34 anos e sacerdote há 24. Na sua apresentação ao Santo Padre e aos demais membros do pré-Sínodo, falou de sua alegria de ser um dos participantes, de estar pela primeira vez diante do Santo Padre e da presença da Igreja no meio de seu povo.

Histórico

“Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”. Este é o tema escolhido pelo Papa Francisco para a assembleia especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica. Na verdade, os preparativos já começaram efetivamente durante a recente visita do Papa ao Peru, mas o Sínodo será realizado em outubro de 2019. Jorge Mario Bergoglio também nomeou os 18 membros do Conselho Pré-Sinodal, que colaborará na preparação do evento. Entre eles estão uma freira e um leigo, os vigários apostólicos de diversas comunidades amazônicas, o cardeal Claudio Hummes e o bispo missionário Erwin Kräutler.

O Papa, que havia anunciado a intenção de convocar um Sínodo especial sobre a Amazôniaaos bispos peruanos durante a visita ‘ad limina’, em maio do ano passado, fez o anúncio oficial durante o Angelus de 15 de outubro: “Acolhendo o desejo de algumas Conferências Episcopais da América Latina, além da voz de diversos pastores e fiéis de outras partes do mundo”, disse ele na ocasião aos fiéis, “decidi convocar uma Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica, que terá lugar em Roma em outubro de 2019”.

“O objetivo principal desta convocatória – prosseguiu Francisco – é identificar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus, especialmente dosindígenas, muitas vezes esquecida e sem a perspectiva de um futuro sereno, devido inclusive à crise da floresta amazônica, pulmão de capital importância para o nosso planeta. Que os novos santos intercedam por este evento eclesial, para que, no respeito à beleza da Criação, todos os povos da terra possam louvar a Deus, Senhor do universo, e, por Ele iluminados, trilhem caminhos de justiça e paz”.

No final do encontro com as populações indígenas, durante a visita a Puerto Maldonado, às portas da Amazônia peruana, o Papa anunciou, em janeiro deste ano: “A primeira reunião pré-sinodal acontecerá aqui, esta tarde”.

A Sala de Imprensa do Vaticano anunciou o tema da assembleia de outubro de 2019, e também mencionou que o Papa nomeou, como sempre acontece antes de um Sínodo especial, “os membros do Conselho Pré-Sinodal que colaborará com a Secretaria Geral na preparação da mencionada Assembleia Especial”. Trata-se de 18 pessoas que representam substancialmente a geografia da Amazônia, a maior floresta do mundo que se estende por nove países da América Latina: Brasil, principalmente, Colômbia, Peru, Venezuela,Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa.

Os nomes escolhidos pelo Papa são o cardeal brasileiro Claudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo (amigo de longa data de Jorge Mario Bergoglio, além de seu “vizinho de banco” durante o Conclave), presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica(REPAM) que se manifestou em várias ocasiões a favor da evangelização da Amazônia; o cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, prefeito do dicastério vaticano para o Serviço Integral de Desenvolvimento Humano; o “Ministro para os Assuntos Exteriores” da Santa Sé, Paul Richard Gallagher; o vigário apostólico de Puerto Maldonado, Peru, David Martínez de Aguirre Guiné; o novo arcebispo da Cidade do México, cardeal Carlos Aguiar Retes; o vice-presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica, o jesuíta Pedro Ricardo Barreto Jimeno, arcebispo peruano de Huancayo; o arcebispo paraguaio de Assunção, Edmundo Ponciano Valenzuela Mellid; o arcebispo brasileiro de Porto Velho, Roque Paloschi.

Também foram nomeados para fazer parte desta comissão o presidente da Conferência Episcopal da Argentina, Óscar Vicente Oiea; o bispo brasileiro do Mato Grosso, Neri José Tondello; o bispo de Paramaribo, Suriname, Karel Martinus Choennie; o ex-vigário apostólico de Puerto Ayacucho, Venezuela, José Ángel Divasson Cilveti; o vigário apostólico de Puyo, Equador, Rafael Cob García; o vigário apostólico de Pando, Bolívia, Eugenio Coter; o vigário apostólico de Puerto Leguízamo-Solano, Colômbia, Joaquín Humberto Pinzón Guiza; a irmã carmelita María Irene Lopes Dos Santos, delegada da Conferência Latino-Americana e Caribenha de Religiosos e Religiosas (Clar); Mauricio López, leigo, secretário executivo da Repam (Equador); dom Erwin Kräutler, missionário austríaco no Brasil, prelado emérito do Xingu.

No início do pontificado de Francisco, Kräutler foi recebido pelo novo Pontífice argentino e, em conversas subsequentes com a imprensa austríaca, falou sobre os ‘viri probati’, homens ordenados de fé comprovada, em relação à dificuldade dos sacerdotes locais chegarem às comunidades tão distantes umas das outras e com o consequente sofrimento para os fiéis que não podem se comunicar durante longos períodos de tempo.

Relação dos membros do Conselho Pré-Sinodal:

– Card. Claudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo (Brasil), presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica.

– Card. Peter Kodwo Appiah Turkson, prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral.

– Card. Carlos Aguiar Retes, arcebispo da Cidade do México (México).

– Dom Pedro Ricardo Barreto Jimeno, S.J., arcebispo de Huancayo (Peru), vice-presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica.

– Dom Paul Richard Gallagher, arcebispo titular de Hodelm, secretário para as Relações com os Estados.

– Dom Edmundo Ponciano Valenzuela Mellid, S.D.B., arcebispo de Assunção (Paraguai).

– Dom Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho, Rondônia (Brasil).

– Dom Oscar Vicente Ojea, bispo de San Isidro, presidente da Conferência Episcopal (Argentina).

– Dom Neri José Tondello, bispo de Juína, Mato Grosso (Brasil).

– Dom Karel Martinus Choennie, bispo de Paramaribo (Suriname).

– Dom Erwin Kräutler, C.P.P.S., bispo emérito do Xingu, Pará (Brasil).

– Dom José Ángel Divassón Cilveti, S.D.B., ex-vigário apostólico de Puerto Ayacucho (Venezuela), bispo titular de Bamaccora.

– Dom Rafael Cob García, vigário apostólico de Puyo, bispo titular de Cerbali (Equador).

– Dom Eugenio Coter, vigário apostólico de Pando, bispo titular de Tibiuca (Bolívia).

– Dom Joaquín Humberto Pinzón Güiza, I.M.C., vigário apostólico de Puerto Leguízamo-Solano, bispo titular de Ottocio (Colômbia).

– Dom David Martínez de Aguirre Guinea, O.P., vigário apostólico de Puerto Maldonado, bispo titular de Izirzada (Peru).

– Irmã María Irene Lopez Dos Santos, delegada da Conferência Latino-Americana e Caribenha de Religiosos e Religiosas (CLAR).

– Mauricio López, secretário executivo da REPAM (Equador).

**************************

1- Matéria escrita por por Cristiane Murray – Cidade do Vaticano

2-  A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por Vatican Insider, em 08-03-2018. A tradução é de André Langer. Publicada no Brasil pelo Instituto Humanitas Unisinos (IHU)

 

Save
Cookies user preferences
We use cookies to ensure you to get the best experience on our website. If you decline the use of cookies, this website may not function as expected.
Accept all
Decline all
Read more
Analytics
Tools used to analyze the data to measure the effectiveness of a website and to understand how it works.
Google Analytics
Accept
Decline
Unknown
Unknown
Accept
Decline