COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

A organização coletiva das mulheres transforma a sociedade: é com esse entendimento que a Comissão Pastoral da Terra – CPT organizou os Encontros Regionais de Mulheres Camponesas da Baixada Cuiabana, cujo tema foi “Mulher, fruto de fé e esperança”. O objetivo desses encontros é reunir mulheres de várias comunidades acompanhadas pela CPT para proporcionar momentos de reflexão, organização e solidariedade.

 

(Por Andrés Pasquis / Gias)

A luta pela autonomia financeira e outros direitos

Um dos principais pontos de reflexão abordados foi a autonomia financeira da mulher. Para apoiar o debate, as participantes começaram relembrando que vivemos em uma sociedade capitalista e, consequentemente, machista e patriarcal. Nela, as mulheres sempre foram e continuam sendo lesadas em todas as áreas, sejam estas domésticas, institucionais, profissionais, políticas e outras.

No âmbito profissional, a mulher trabalha bem mais do que o homem, executando uma dupla, até tripla jornada, com condições mais precárias e salários inferiores para o mesmo tipo de atividade. Como se isso não bastasse, ainda existem muitos casos nos quais a mulher não administra a própria renda, dependendo da autorização do marido para isso.

A Irmã Vera Maria Lobo, conselheira permanente da CPT, declarou que esse tipo de desigualdade e abuso não pode continuar. “Quando a mulher não tem o direito administrar o dinheiro pelo qual trabalhou dura e dignamente, ela é privada de autonomia. Isso contribui com a violência e submissão cotidiana que ela sofre. Isso tem que mudar”, disse Irmã Vera. E justamente, a conselheira explicou que para isso é importantíssimo que as mulheres se unam, troquem experiências e se organizem, para buscar alternativas, inclusive para guiar melhor as próximas gerações.

Na sequência, foram formados grupos de trabalho por região para refletir sobre as possibilidades de organização das mulheres em cada comunidade. No caso em que já existisse alguma associação de mulheres, o foco seria o fortalecimento e crescimento da mesma. Se não houvesse nenhum tipo de associação, o trabalho consistiria em avaliar as potencialidades e atividades ao redor das quais as mulheres poderiam se unir. Nos dois casos, a solidariedade e a troca de experiências conduziram a reflexão.

Os retrocessos do Golpe impactam primeiro as mulheres

Os Encontros foram também o momento de analisar os diferentes retrocessos perpetrados pelo governo ilegítimo de Michel Temer. Dentre os muitos que estão em curso, destacam-se a Proposta de Emenda à Constituição – PEC da Previdência (287/2016), o Projeto de Lei para a “Reforma” Trabalhista, a “Reforma” do Ensino Médio (Medida Provisória 746 / Lei 13.415) e a PEC 241, também conhecida como PEC da Morte.

Gloria Maria Grande Muñoz, agente voluntária da CPT, explica que não importam os retrocessos cometidos, as mulheres sempre são as primeiras e as mais impactadas. Essa realidade é ainda mais flagrante quando se trata do meio rural, já que, no caso da contrarreforma da previdência, por exemplo, o trabalhador brasileiro vai precisar contribuir mais, morrendo antes de conseguir se aposentar.

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“No caso da mulher é pior ainda, já que se desconsideram totalmente a dupla-jornada de trabalho. Se forem mulheres rurais, além de omitir que o trabalho é ainda mais pesado, alimenta-se a ideia de que elas não contribuem para a Previdência. Mas contribuem de várias maneiras, por exemplo com o Fundo Rural ou com os impostos pagos sobre o que compram e o que vendem”, denunciou Gloria.

Os conflitos no campo

Com a triste notícia do assassinato de nove trabalhadores rurais na cidade de Colniza, vítimas do conflito de terras que assola a região, na quarta-feira 19 de abril, outro grave tema foi abordado pela Comissão: os conflitos no campo e os crimes cometidos pelos donos do agronegócio contra as trabalhadoras e trabalhadores rurais.

Cristiano Apolucena, coordenador regional da CPT, apresentou a publicação Conflitos no Campo Brasil 2016. Nesse ano, só em Mato Grosso, 40.028 famílias foram envolvidas em conflitos no campo. Ele denunciou que no estado é lucrativo cometer esse tipo de crime, já que os verdadeiros culpados nunca são presos. “É uma violência institucionalizada, pois conta com a indiferença e apoio do governo”, denunciou.

Nesse contexto, as mulheres que participaram dos Encontros decidiram participar da mobilização de sexta-feira 28 de abril, na luta para garantir seus direitos, denunciar os crimes do campo e em solidariedade pelas vítimas da chacina de Colniza.

Os Encontros Regionais foram realizados nas comunidades de Laginha de Cima (Nossa Senhora do Livramento) e Barra do Buriti (Jangada), nos sábados 08 e 22 de abril, servindo também como preparação para o Intercâmbio Estadual de Mulheres acompanhadas pela CPT em Mato Grosso, que acontecerá em Colíder nos dias 28, 29 e 30 de julho 2017.

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