COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Em virtude de invasão ocorrida em 3 de maio, à sede do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém, a CPT - Equipe Santarém emite nota pública em apoio ao sindicato e em solidariedade ao Conselho Indígena Tapajós-Arapiuns (CITA).

Leia o documento na íntegra:

Nota de Solidariedade ao STTR de Santarém

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) presta, neste momento, solidariedade à executiva do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém, que na manhã deste dia 03 de maio, segunda-feira, teve sua sede ocupada de forma violenta por pessoas que se diziam insatisfeitas com as ações do Sindicato. Estende-se, também, a solidariedade ao Conselho Indígena Tapajós-Arapiuns (CITA) que, da mesma forma que o Sindicato, tem sofrido ameaças devido seu posicionamento em defesa das comunidades indígenas que moram dentro da Resex Tapajós Arapiuns, município de Santarém-PA.

Tanto STTR, quanto CITA têm um histórico de luta e defesa de trabalhadoras/trabalhadores e indígenas na região do Baixo Tapajós e têm sido incansáveis na luta e defesa dos territórios habitados pelas populações nativas. Sindicato e CITA têm se juntado com várias outras organizações locais com o objetivo de dialogar sobre questões que vêm se desdobrando dentro da RESEX Tapajós/Arapiuns, principalmente com a forma como são conduzidos os procedimentos para elaboração dos Planos de Manejos Comunitários Madeireiros dentro daquela Unidade de Conservação.

Nossa região, apesar das décadas de exploração madeireira de forma ilegal, ainda guarda dentro dos territórios, destinados às populações nativas, um grande potencial de florestas. Isto tem, de certa forma, diminuído a possibilidade de atuação predatória na exploração madeireira. Neste sentido, resta para alguns grupos do setor madeireiro tentar intervir junto às comunidades ou associações para conseguir a exploração da madeira por meio dos Planos de Manejo Comunitário. Ocorre que quase sempre os procedimentos não seguem as devidas discussões entre as comunidades e seus moradores, levando, em alguns casos, à cooptação de lideranças para atuarem em defesa dos interesses das empresas.

Esta realidade tem se repetido em vários territórios em nossa região, principalmente naqueles que o potencial madeireiro é grande. Este modo de operar de algumas empresas madeireiras provoca conflitos entre os próprios comunitários. Com o velho discurso do “progressismo”, acabam iludindo algumas pessoas dentro das comunidades que passam a defender os interesses de grupos externos e questionar lideranças que não concordam com as propostas, iniciando o conflito interno.

Preocupados com os acontecimentos que ocorrem no interior da Resex Tapajós/Arapiuns, o STTR e o CITA passaram a tratar do assunto, buscando dialogar com as lideranças e encontrar o momento mais adequado para tomar as devidas decisões, já que com as restrições definidas pelos governos locais, devido a aumento de contágio do Coronavirus, impossibilitavam que fossem realizados os encontros para deliberações. Vale informar que a região da RESEX Tapajós/Arapiuns foi uma das mais atingidas pela contaminação de pessoas pelo Covid 19.

Como as tentativas de diálogo para aguardar o momento mais adequado para as reuniões não fluíram e, por outro lado, os procedimentos de aprovação do Plano de Manejo avançavam, foi necessário propor uma Ação Civil Pública pedindo a suspensão dos procedimentos de aprovação de Plano de Manejo dentro da RESEX, até que fosse seguro realizar as devidas reuniões.

A CPT acompanha esta discussão e acredita ser necessário sempre haver esclarecimentos junto às comunidades, principalmente por já acompanhar, em outros territórios, estratégias de grupos madeireiros que provocam conflitos internos, o que prejudica o desenvolvimento das atividades produtivas.

Reconhecemos a legitimidade da Associação Tapajoara (Organização das Associações e Moradores da Resex Tapajós Arapiuns) para tratar das questões de interesse do território da RESEX e seus habitantes. E não acreditamos que a direção desta associação aprove ou colabore com a invasão violenta, como a praticada contra a direção do STTR.

Reforçamos nossa solidariedade ao STTR e ao CITA, que sempre buscaram estimular um trabalho junto às bases para o protagonismo local, contudo, sem deixar de estar atentos às possíveis intervenções externas que atuam de forma sedutora para ludibriar e manipular algumas lideranças.

É fundamental que em um momento político desfavorável à luta dos povos da floresta, estejamos todos juntos, sem cairmos na armadilha provocada pelos históricos inimigos que buscam nos dividir para nos vencer. É necessário mantermos nossa Esperança em uma Unidade que nos dê a garantia de avançar em favor dos interesses de nosso povo, sem permitir que sejamos manipulados. Pois, como diz Papa Francisco “Para evitar essa dinâmica de empobrecimento humano, é preciso amar as raízes e cuidar delas, porque são ‘um ponto de enraizamento que nos permite crescer e responder aos novos desafios’” (Querida Amazõnia-2019).

Santarém, 05 de maio de 2021.

CPT Pará - Equipe Santarém

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