COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Além de derrubarem e enterrarem uma casa de alvenaria em construção, os grileiros destruiram um histórico rancho de madeira, cercas e currais utilizados pelas comunidades geraizeiras da região.

Por CPT-BA

Entre os dias 22 a 24 de janeiro, as comunidades que usam o Fecho de Pasto da Vereda da Felicidade foram surpreendidas por mais um ataque de grileiros, que num ato cruel derrubaram a casa de alvenaria que os fecheiros estavam construindo para se abrigar na época do manejo do gado. Afim de não deixarem vestígios, utilizaram de uma pá carregadeira que cavou um buraco e enterrou todo o material de construção da casa que já se encontrava em ponto de madeiramento para o telhado. Além de enterrar os restos da construção, espalharam toda a brita utilizada, chegando até as margens da vereda da Onça e cavaram buracos construindo obstáculos de terra na estrada tentando impedir o acesso até o local da turbação e esbulho.

                                                      

              Casa de apoio em construção em ponto de madeira e telhado                                                                  Casa de apoio após a destruição e soterramento

No último domingo (24), os malfeitores retornaram a área e acabaram com um rancho de madeira construído há mais de 50 anos, local de descanso dos posseiros quando do manejo do gado. E derrubaram mais de 4 km de cerca e currais comunitários usados pelos Geraizeiros. Tais crimes já foram comunicados a Delegacia de Polícia de Correntina, de quem se aguarda que as providências sejam tomadas. Contudo, merece destacar a gravidade deste ataque ao Fecho de Pasto da Vereda da Felicidade e a violência com que tudo se deu, acredita-se que quase que simultaneamente, enquanto ocorria a turbação e o esbulho da Vereda da Felicidade, em Correntina, na comunidade de Braço do Roçado, município de Barra, moradores desta comunidade eram ameaçados por homens armados, enquanto outros ameaçavam derrubar a cerca dos Ribeirinhos com um trator.

O Fecho de Pasto de Vereda da Felicidade, no município de Correntina-BA é utilizado por famílias Geraizeiras das comunidades de Mocambo, São Francisco de Santa Maria da Vitória, Silvânia, Jenipapo e Cobra Verde de Correntina de maneira comunal há mais de um século. A área deste Fecho possui 12.800 ha de Cerrados conservados por estas comunidades, onde encontra-se cinco veredas perenes que delimitam o território, distribuídas geograficamente da seguinte forma a Leste a Vereda do Cabresto, depois em direção ao Oeste estão a Vereda da Onça, a Vereda do Morrinho, a Vereda das Pedras e pôr fim a Vereda da Felicidade, que dá nome ao Fecho, todas estas desaguam no rio das Éguas ao sul, e ao norte há um eixo limítrofe com algumas fazendas, este território é delimitado pelas veredas e por cercas de arame históricas, conforme a tradição das comunidades Geraizeiras.

Estas comunidades estão em conflitos com fazendeiros há anos, com processos judiciais em curso pela disputa deste território, que é fundamental para o modo de vida destas comunidades que utilizam o fecho para a solta do gado bovino em regime sazonal, soltando os animais em duas épocas do ano, nas primeiras chuvas entre outubro e janeiro e depois entre os meses de março e maio, com o objetivo de manter conservados as pastagens de suas áreas que estão há mais de 40 km deste território.

Esta solta possui um conhecimento tradicional extremamente adaptado ao manejo das pastagens nativas dos Cerrados, com destaque para o manejo dos capins “Agreste” este de dois tipos variando o tamanho das folhas, a “Braquiarinha”, o “Pereirão”, a “Timborna”, o “Mangulô”, a “Mandioqueira”, a “Tiririca”, a “Marmelada”, além destas pastagens nativas os animais ainda se alimentam da flor de Pequi, da fruta do Barbatimão e do Sabiú. Além do manejo das pastagens os rebanhos foram selecionados considerando que as fêmeas possuíam maior resistência aos pastos nativos, além da pecuária, pratica-se durante os ciclos das plantas do Cerrado, o extrativismo, com destaque para o Pequi, a Aroeira, o Barbatimão, o Buriti, a Favela, e uma centena de plantas com uso medicinal.

Por tudo isso, clamamos por justiça e pedimos a intervenção das autoridades competentes a fim de se evitar mais uma tragédia anunciada no Oeste da Bahia. Inclusive, com risco eminente de derramamento de sangue, visto que tais territórios são fontes de sustento das referidas comunidades.

Correntina-BA, 25 de janeiro de 2021.

Associação de Preservação de Meio Ambiente Veredas da Felicidade

Comissão Pastoral da Terra - Centro Oeste da Bahia Núcleo da Diocese de Bom Jesus da Lapa

Associação dos Advogados de Trabalhadores Rurais da Bahia-AATR

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