COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

O estudante Alvanei Xirixana passou 21 dias, entre hospitais e posto de saúde, com os sintomas do novo coronavírus e sem fazer o teste. Ele é o primeiro indígena aldeado a morrer por covid-19 e vivia em área próxima a garimpo ilegal. Com o jovem, já são 3 indígenas mortos pelo coronavírus no Brasil.

(Amazônia Real com informações do Brasil de Fato /Victor Moriyama - ISA)

A Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, informou na noite desta quinta-feira (9) que o estudante Yanomami, de 15 anos, morreu às 20 horas (21 em Brasília) por complicações da infecção no pulmão devido à doença Covid-19.

À agência Amazônia Real, a Sesai disse que a “causa mortis ainda não foi informada pelo Hospital Geral de Roraima”, onde o jovem estava internado desde o dia 3 de abril. O hospital é dirigido pelo governo do estado.

O médico infectologista Joel Gonzaga, da Sesai, afirmou à reportagem que o quadro de saúde do estudante se agravou “com o comprometimento cerebral, tromboembolismo e complicações da resposta inflamatória do vírus”.

O estudante tinha a saúde afetada por ter contraído, antes da Covid-19, “doenças como desnutrição, anemia, malárias repetitivas e foi tratado, mês passado (março), de Malária Falciparum”, disse Gonzaga.

Por respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a agência Amazônia Real não tinha divulgado antes o nome do estudante. Conforme o Ministério da Saúde, o jovem é Alvanei Xirixana, nascido na Comunidade Helepi, na Terra Indígena Yanomami, em 02 de março de 2005. Seus pais são Ivanete Xirixana e Alfredo Xirixana.

Alvanei estudava o ensino fundamental em uma escola da Comunidade Boqueirão, na Terra Indígena Boqueirão, dos povos Macuxi e Wapichana, no município de Alta Alegre, no norte de Roraima.

LEIA MAIS: Monitoramento realizado pelo ISA indica que dois indígenas já morreram de Covid-19 no Brasil

Teste de indígena falecida dá positivo para Covid-19 em Alter do Chão (PA)

O coronavírus, a barbárie e a força do Cerrado

Os pais do estudante, cinco profissionais da saúde indígena, um piloto de avião e a Comunidade Helepi, com cerca de 70 pessoas, estão no isolamento e monitoramento pela Sesai por terem mantido contato com o Alvanei. Até o momento não há informações sobre como o menino foi infectado pelo novo coronavírus.

Como publicou a agência, o estudante Alvanei Xirixana passou 21 dias com os sintomas do novo coronavírus, buscando por atendimento de saúde e não foi submetido no início da doença ao teste para Covid-19. Ele chegou a receber alta do Hospital Geral de Roraima. As internações aconteceram no período de 18 de março a 3 de abril e demostraram fragilidade no sistema da saúde indígena.

O diagnóstico da doença Covid-19 foi confirmado no estudante Yanomami apenas no último dia 7 de abril com a contraprova realizada com o sangue (RT-PCR), que detectou o coronavírus, que causa a pandemia mundial.

O Ministério da Saúde informou o primeiro caso de Covid-19 entre indígenas Yanomami no dia 8 de abril. Em sua rede social, o antropólogo francês Bruce Albert disse que o jovem era de uma comunidade “da região do rio Uraricoera, área de garimpo”. Ele também destacou que o adolescente não foi atendido pelo sistema de saúde quando sentiu os primeiros sintomas da gripe.

“Estava (o jovem) perambulando entre Casai leste e HG de RR desde 19/3 com sintomas respiratórios característicos e prescrição de antibióticos. Conviveu com muita gente desde então”, disse o antropólogo e etnógrafo Bruce Albert, amigo do líder e xamã Davi Kopenawa desde os anos 70 e ambos parceiros na autoria do livro “A queda do céu”.

Garimpo ilegal em territórios indígenas

Para o vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami, Dário Vitório Kopenawa Yanomami, de 26 anos, quem levou a covid-19 para o seu povo foram os garimpeiros ilegais, que extraem minério das terra indígenas – como ouro –, seja por terra, barco e até avião. 

"Eu tenho muito medo. Tem muitos idosos yanomami, estão vivos ainda. Se contaminar os yanomami, realmente, os yanomamis vão morrer, porque a doença é muito perigosa: não tem cura, não tem remédio, não tem vacina. Isso eu tenho muito medo. Eu não quero que meu povo morra dessa doença que está matando milhares de sociedades não indígenas do mundo", afirma. 

A Terra Indígena Yanomami (AM/RR) é considerada uma porta de entrada para alguns milhares de garimpeiros ilegais, há décadas, como relata Dário.

"Esse é um problema muito antigo. Resumidamente, na década de 80, tinham alguns problemas muito sérios. Tinham aproximadamente 40 mil garimpeiros, e a gente lutou muito, fizemos grandes manifestações, e o governo brasileiro conseguia retirar os garimpeiros. E, repetindo [a história], os garimpos estão no território Yanomami de 2015 a 2019 e, agora, 2020 eles estão lá ainda", conta. 

Dário explica ainda que os yanomami já fizeram uma série de denúncias para o Ministério Público Federal, Polícia Federal e a Fundação Nacional do Índio (Funai), relatando não só o garimpo ilegal, mas a  contaminação dos rios, o uso de mercúrio e o prejuízo à saúde dos indígenas, assim como a contaminação à floresta. "Até agora, o governo federal não tomou decisão para retirar os garimpeiros", diz o indígena.

 

Save
Cookies user preferences
We use cookies to ensure you to get the best experience on our website. If you decline the use of cookies, this website may not function as expected.
Accept all
Decline all
Read more
Analytics
Tools used to analyze the data to measure the effectiveness of a website and to understand how it works.
Google Analytics
Accept
Decline
Unknown
Unknown
Accept
Decline