COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Conforme informações preliminares, três pessoas, sendo Dilma Ferreira Silva, da coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) em Tucuruí, no Pará, seu esposo e outro homem (esse ainda não identificado) foram mortos na residência do casal. Ainda não há informações sobre a motivação do crime.

 

(Fonte: Assessoria de Comunicação da CPT | Imagem: Divulgação/MAB)

As três pessoas, segundo informações iniciais, foram assassinadas nesta sexta-feira, 22, no Assentamento Salvador Alende, distante cerca de 50 quilômetros do município Tucuruí, no estado Pará, por dois homens que estariam a pé. Se for confirmado que as mortes ocorreram em contexto de conflitos agrários, esse será o primeiro massacre no campo em 2019, conforme os dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

De acordo com o MAB, Dilma Ferreira começou sua militância no movimento em 2005, e “contribuiu nas organizações dos grupos de bases do MAB, tanto na área urbana, nas ilhas, e, em especial, nos assentamentos [...] Dilma, mulher valente e guerreira, lutou incansavelmente para defender os direitos dos atingidos por barragens. Por onde passava era querida e admirada por todos”, destacou o MAB após saber do crime.

O Instituto Médico Legal (IML) e Polícia Civil de Tucuruí se deslocaram para o assentamento nesta manhã. A Delegacia de Polícia Civil do município de Baião (PA) também acompanha o caso. A delegacia policial de Tucuruí informou, neste início de tarde, que os policiais que foram até o local do crime ainda não haviam retornado à cidade.

A antiga Fazenda Piratininga, hoje Assentamento Salvador Alende, possui um longo histórico de conflitos. O local foi ocupado há 12 anos por mais de 400 famílias sem-terra. Desde então, até se tornar um assentamento, foram vários ataques de pistoleiros e conflitos com madeireiros.

(Na imagem acima, divulgada pelo MAB, a assentada Dilma se encontra com sua xará, a então presidenta do Brasil Dilma Rousseff. O registro foi feito em 2011, durante uma audiência com a chefe do Executivo, quando foi entregue pela militante um documento que pedia uma política nacional de direitos para os atingidos por barragens e atenção especial para as mulheres atingidas).

Histórico conflituoso

Em 2007, aproximadamente 480 famílias ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam a Fazenda Piratininga, localizada no quilômetro 50 da BR-422, conhecida como Transcametá, no município de Baião, no Pará. O nome dado ao acampamento foi Salvador Alende. Renato Lima era o pretenso proprietário da área.

Ainda naquele ano, no dia 06 de agosto, um grupo formado por quatro homens fortemente armados foi até o acampamento e disparou vários tiros - ninguém ficou ferido. Os pistoleiros estavam em uma caminhonete e em uma moto.

Dias depois, as famílias foram vítimas de um segundo ataque. Um grupo formado por cerca de 15 homens armados chegou ao acampamento, disparou vários tiros no local, e agrediu fisicamente os homens, mulheres, jovens e crianças. Algumas pessoas, inclusive, tiveram braços e pernas quebrados, outras pessoas fugiram do ataque e se abrigaram em uma mata.

Após esse intenso ataque, as famílias foram obrigadas a deixar a fazenda, e acamparam na sede do Instituto Nacional de Colonização de Reforma Agrária (INCRA) em Tucuruí. Algum tempo depois, os/as acampados/as retornaram para a fazenda, mesmo circulando boatos na região de que um grupo de pistoleiros se preparava para um novo ataque às famílias.

Já no ano de 2009, no mês de novembro, o MST do Pará, durante a Jornada de Luta pela Reforma Agrária, ocupou o INCRA de Tucuruí para denunciar os conflitos agrários na região e pressionar os órgãos públicos para que fazendas, como a Piratininga, fossem desapropriadas para fins de reforma agrária. Segundo o movimento, as terras da Fazenda Piratininga eram, na verdade, da União e haviam sido griladas. Cerca de 220 trabalhadores e trabalhadoras participaram da ação.

Durante esse ato, o movimento também denunciou a situação conflituosa entre os posseiros e madeireiros, que desmatavam as áreas de reserva, ameaçavam e tentavam expulsar as famílias daquelas localidades.

Em 2010, no mês de maio, cerca de 1.300 famílias de diversas áreas ocuparam a sede do INCRA no município de Marabá, e a pauta de reivindicações não era muito diferente do ano anterior. As famílias do então Acampamento Salvador Allende denunciavam a violência por parte de madeireiros, e que nenhuma autoridade se manifestava para a resolução da problemática.

Em 2011, cerca de 50 famílias da ocupação na Fazenda Piratininga acamparam na Praça do Mogno, em Tucuruí, para reivindicar o assentamento na área. Nesse mesmo ano, as famílias sem-terra, acompanhadas pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (FETRAF/PA) e pelo MST, sofreram uma reintegração de posse. Todavia, após a saída das famílias, o INCRA começou a medição dos lotes. Algum tempo depois o acampamento se tornou Assentamento Salvador Allende.

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