COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Moradores da zona rural relatam episódios de agressão, saque e ameaças. Famílias têm deixado de enviar filhos à escola com medo de ataques.

 

(Fonte: G1 Ariquemes e Vale do Jamari/Imagem: Conselho Tutelar)

Moradores do assentamento Terra Prometida, zona rural de Ariquemes, na região do Vale do Jamari em Rondônia, relatam que um grupo de homens armados têm amedrontado produtores rurais da região realizando ataques frequentes, saqueando casas e agredindo as pessoas desde fevereiro deste ano. A situação vem se agravando, já que as famílias se recusam a enviar os filhos à escola desde que dois motoristas foram agredidos e o ônibus escolar invadido por homens armados. A Polícia Militar (PM) conta que há 35 fazendas em seis municípios do Vale do Jamari, todas em áreas de conflitos agrários.

 Os agricultores dizem que há uma milícia atuando na região. Esses homens teriam sido contratados pelos próprios fazendeiros em 2015 para fazer a segurança das propriedades. Só que após os sem-terras terem sido expulsos da região, os vigilantes passaram a atacar os pequenos produtores.

Uma agricultora da região, que prefere não se identificar com medo de represálias, relembrou o ataque que sofreu. "Eu estava no curral quando avistei três pessoas com armas pulando a porteira. Gritei por minha filha e fui de encontro a eles, que perguntaram pelo meu marido. Já foram me empurrando com a espingarda e dando tiros para o chão para me assustar. Falei que não sabia do meu marido e eles me levaram junto com a minha filha para dentro de casa exigindo que fizesse comida para eles. Pensei que ia morrer naquele momento. Minha filha passou mal. Foi horrível".

A mulher conta ainda que outro grupo armado também atacou a propriedade vizinha e que a filha do casal entra em pânico e desmaia toda vez que vê um deles na estrada. "Ninguém pode fazer mais nada. Estamos reféns desses homens que estão ao nosso redor todos os dias", relata.

O motorista de ônibus escolar agredido também relata os momentos de terror que viveu nas mãos dos criminosos.

"Eles foram de madrugada até minha casa, onde fica guardado o ônibus escolar. Um deles me deu uma coronhada na cabeça e mandou que eu fosse com o ônibus buscar bebidas para eles num bar. O que eu passei não desejo para ninguém. Foram quase 2h de terror. Dependo do meu trabalho, mas se continuar assim, eu renuncio do meu emprego para ter mais segurança”, disse.

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Por causa do ataque ao motorista, os pais temem mandar as crianças para escola. É o caso de uma agricultora que há mais de 20 dias deixou de mandar a filha para a escola por medo. "Certa vez entraram armados no ônibus com as crianças dentro. Eu, meus vizinhos e outros optaram por não mandar os filhos para escola até que a segurança seja garantida. Estamos vendo a hora em que a próxima vítima serão nossos filhos. Nunca imaginei presenciar isso", confessa.

O orientador da escola Padre Ângelo Spadari, Irineu José Junior, confirmou que cerca de 150 crianças que moram na região não estão indo ao colégio e diz também que dois motoristas escolares foram agredidos pelo grupo. "A única coisa que a gente pode fazer é tentar dar apoio a esses alunos", declara.

Conselho Tutelar
Devido às crianças não estarem frequentando a escola, o Conselho Tutelar de Ariquemes tem acompanhado o caso. Com a situação se agravando desde fevereiro, o conselheiro do município conta que foi feito um documento com relatos dos moradores e da direção da Escola Ângelo Spadari que foi encaminhado ao Ministério Público do Estado de Rondônia e órgãos de segurança para tomarem conhecimento.

Secretaria de Educação
Apesar dos relatos dos moradores, do conselho tutelar e do orientador da escola, a Secretaria Municipal de Educação (Semed) afirmou que os ônibus escolares estão circulando normalmente para fazer o transporte dos alunos na região. A Semed destacou também que não haverá alterações no calendário escolar já que, segundo a secretaria não houve interrupção de aulas.

Posição da PM
Em contato com a Polícia Militar (PM), o subcomandante do 7º Batalhão Capitão Faria informou que a polícia tem conhecimento de fatos isolados que teriam ocorrido na região e de um grupo armado que estaria extorquindo moradores naquela localidade. Para combater os crimes, a PM diz que realiza patrulhamento frequente nas linhas rurais, abordagens e já fez algumas prisões, recuperando produtos de roubo. O patrulhamento aéreo também começou a ser realizado no último fim de semana para auxiliar nos trabalhos.

Investigação
À reportagem, o delegado regional da Polícia Civil, Thiago Flores, informou que a polícia tem conhecimento dos fatos ocorridos no local e reiterou que é preciso medidas enérgicas e imediatas. "A Polícia Civil está com investigação em curso para identificar as pessoas que estão sendo agenciadas para cometer esses crimes. Temos informações de algumas características físicas e de nomes, o trabalho da investigação será aprofundado para poder imputar a cada um a sua responsabilidade”, explicou o delegado.

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