COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Inicia nessa manhã, 16, o Seminário Nacional “Matopiba: conflitos, resistências e novas dinâmicas de expansão do agronegócio no Brasil” que está sendo realizado no centro de formação da Contag em Brasília entre os dias 16 a 18 de novembro, 2016. Na oportunidade se fazem presentes representantes de diversas organizações de todas as regiões do país, bem como, representantes de organizações camponesas do Japão e Moçambique.

 

(Por Adilvane Spezia - MPA | Imagem: Eanes Silva)

O Seminário é organizado pela Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, que tem como lema “Cerrado, Berço das Águas: Sem Cerrado, Sem Água, Sem Vida”, já que 90% dos munícipios afetados pelo projeto do Matopiba estão na região do Cerrado. O objetivo do Seminário “é estudar, debater e traçar os próximos passos a serem adotados para barrar esse projeto de expansão do Agronegócio que é o Matopiba”, explica Isolete Wichinieski da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

A abertura do Seminários se deu com a apresentação dos participantes, de onde vêm e a organização que representa, em seguida foram ecoadas “As vozes do Cerrado. Sociodiversidade e histórias de resistência no Cerrado brasileiro”. Fechando as atividades da manhã, debateu-se sobre “As estratégias de Conquista do Cerrado Brasileiro pelo Capital: perspectiva histórica e o papel do Estado e de atores nacionais e internacionais”.

Antonio Apinagé líder indígena Apinagé, fez uma abordagem histórica das ameaças e impactos sobre as comunidades, “da nossa luta podemos esperar o melhor, deles o Agronegócio, só podemos esperar o pior. Não vamos aceitar voltar à idade média, perder toda nossa biodiversidade e destruir nossas comunidades”, enfatiza ele.

Clóvis Caribé, professor e pesquisador da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e Grupo de Estudos em Mudanças Sociais, Agronegócio e Políticas Públicas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (GEMAP/UFRRJ), fez um panorama histórico da ocupação do Cerrado. Trouxe a evolução das Fronteiras Agrícolas no Brasil a partir dos anos 1960, explicando as fases dessa expansão, o período em que eles aconteceram e os principais programas governamentais que influenciaram nessa expansão.

Segundo Clóvis, “esses programas deram tão certo que serviram de modelo para a integração entre Brasil, Japão e Moçambique, gerando o Pró-Savana, pois a vegetação é bem parecida com o Cerrado brasileiro”. Segundo ele “rever as experiências ajuda muito a ver o que queremos e dar os próximos passos”.

Gerardo Cerdas, professor e pesquisador da ActionAid e GEMAP/UFRRJ, falou sobre as Estratégias de Conquista do Cerrado brasileiro pelo Capital: perfil da produção e dos investimentos em infraestrutura no período recente. Segundo ele, “a expansão da fronteira do Agronegócio ainda continua sendo central e quem está investindo no Matopiba é um conjunto de Capitais: Financeiro; Mineração; Energia Elétrica; e, o Agronegócio acelerando muito a produção, os principais produtos são soja, arroz, milho, algodão e cana de açúcar, onde já podemos ver qual é objetivo do Matopiba”.

A apropriação do Cerrado pelo Capital é a estrangeirização das terras nessa região. Uma das fronteiras de expansão é o Hidronegócio, desde indo de grandes barragens à pequenos projetos, vai haver uma espécie de proliferação, 367 são os projetos já em operação, construção, em fase de projeto e eixo disponíveis, em apena dois Estados Goiás e Mato Grosso, explica Gerardo. Obras nos eixos Ferro, Rod e Hidroviário também estão sendo traçado para interferir nessa região para priorizar a expansão do capital, explica o professor. Os povos atingidos pelo Matopiba não têm conseguido reagir as intervenções pela larga escala de sua implantação. Todos estes investimentos estão sendo construído como se o Cerrado fosse vazio, todos os povos estão sendo ignorando”.

Naoko Watanabe do Centro Voluntário internacional do Japão, traz qual é interesse Geopolítico e Capitalista do Japão nos programas de Pro-Savana e Matopiba. Uma das “estratégias é sanar a baixa produção nacional, promover a entrada das empresas nacionais em outros países é montar sua cadeia de commodities. O Japão é muito bom em construir infraestruturas nos outros países, mas o que está por traz é isso”, explica Naoko que trabalha com camponeses no país.

Em 2009 o nosso governo japonês criou um programa de expansão visando em especial a soja na América Latina e em Moçambique, isso explica porque o Japão tem interesse no Matopina e no Pró-Savana, com o objetivo de assegurar a alimentação domestica do Japão e mundial que vem como espécie de segurança das empresas do Japão, explica Naoko. “Essa estratégia não é nova, está sendo executada a pelo menos 100 anos”, explica Naoko. Ela compara ainda a expansão do Japão nos países da Ásia durante a II Guerra Mundial com o que está sendo feito hoje no Matopiba, explorando os recursos e exportando. “O que eles dizem é que todos os programas e medidas são para acabar com a fome e o desenvolvimento, o que acontece é ao contrário. Assim como no Brasil o Japão está modificando suas leis de terras permitindo o avanço das empresas” concluir Naoko.

A programação do Seminário ainda irá contemplar: A troca de experiências de lutas de resistência nos estados e em Moçambique; Entre a vida e o capital: ameaças à terra e ao território no Cerrado brasileiro; O respeito aos modos de vida e a produção de alimentos saudáveis: soberania alimentar e a ameaça do uso intensivo de agrotóxicos; e, Cerrado, o Berço das águas: agronegócio, disputas pela água e o papel da Campanha em Defesa do Cerrado.

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