COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

CPT Rondônia reforça denúncia sobre violência contra camponeses e comunidades tradicionais na Amazônia praticada por madeireiras. Ameaças de morte e expulsões são recorrentes na região. A impunidade é uma constante nesses casos.

 

 

Diversos meios de comunicação do Brasil e do mundo inteiro tem divulgado relatório da Interpol relatando a primeira operação internacional da entidade contra o tráfico ilegal de madeira. A operação foi conduzida em 12 países, entre eles o Brasil, e prendeu quase 200 pessoas e US$ 8 milhões em madeira. "No Brasil muitos defensores do meio ambiente morreram por esta causa", destacam diversas matérias divulgadas em nosso país. Segundo um relatório do PNUMA o comércio de madeira extraída ilegalmente na Amazônia, na África Central e no sudeste Asiático movimenta de US$ 30 bilhões a US$ 100 bilhões por ano, e é responsável por até 90% do desmatamento de florestas tropicais no mundo. O alerta foi feito em meados de setembro de 2012, pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e pela Interpol, durante a divulgação do relatório Carbono Verde: Comércio Negro.

Segundo testemunhas ouvidas pela CPT RO na mesma época, a devastação é contínua na região: "Estão acabando com as florestas ali no Sul de Lábrea". O local tem acesso por Vista Alegre de Abunã, distrito de Porto Velho, já nas proximidades do Acre. "Não dá para contar a enorme quantidade de castanheiras queimadas, é um ‘holocausto ambiental’ ali onde há fartura delas. O que fazer além de denunciar, denunciar e ficar com uma raiva desgraçada?". A extração clandestina de madeira hoje é considerada a causa direta da morte da liderança do MCC (Movimente dos Camponeses de Corumbiara) Adelino Ramos, líder do PAF Curuqueté, que morreu em Vista Alegre do Abuná, em 27 de maio de 2011. O suposto assassino posteriormente foi solto e também assassinado no início de 2012, em queima de arquivo. E o processo da morte foi arquivado mesmo.

O sucessor no PAF e todas as famílias do assentamento florestal foram ameaçados. O novo líder do local teve que acabar fugindo do mesmo, após sérias ameaças e três intentos de assassinato, atribuídos ao madeireiro e pistoleiro Luiz Vicente Machado, irmão do suposto assassino de Adelino Ramos. Ele foi acusado de estar extraindo ilegalmente madeira do PAF Curuqueté (que agora o governo quer converter em Flona, floresta nacional) e do Parque Nacional de Mapinguari (nas proximidades, conhecido pelos madeireiros de Vista Alegre do Abuná como "a fazenda da Dilma").

Somente em 2012, em Rondônia, duas pessoas morreram por causa do tráfico de madeira na Ponta de Abuná. Dinhana Nink foi assassinada na frente do seu filho de cinco anos, em 31 de março, em Nova Califórnia, Porto Velho, por ter saído em defesa de Nilcilene, uma liderança amiga dela, ameaçada e perseguida no PA Gedeão (município de Lábrea, sul do estado de Amazonas).

Nilcilene

Diante desses conflitos na região, a Amnistia Internacional lançou uma campanha mostrando as violações aos direitos humanos na região Sul do Amazonas, em abril do ano passado. Apesar disso em 26/8/12 o indígena kaxarari João Oliveira da Silva Kaxarari foi assassinado na mesma região, por problemas relacionados com invasão de madeireiros na área indígena dele. Na região central de Rondônia, outros indígenas suruí também sofreram ameaças de madeireiros, após um conflito interno e confrontos sobre um projeto de REED e a retirada clandestina de madeira de dentro da área da comunidade.

Já no vizinho estado do Acre, nossos companheiros da CPT AC estão sofrendo diversas ameaças e perseguições por ter denunciado a destruição ambiental provocada por diversos planos de manejo de extração de madeira.

Como a maioria das outras sete mortes por motivos agrários e ambientais em Rondônia, os homicídios de Dinhana Nink e de João Oliveira da Silva Kaxarari continuam impunes, tanto dos autores dos fatos, como dos mandantes. Luiz Vicente Machado e outros madeireiros e pistoleiros sem escrúpulos, como o conhecido "Pit Bull" continuam soltos. A notícia da ação da Interpol alenta a esperança de que estes crimes e as extrações clandestinas de madeira da floresta amazônica comecem a ser impedidos.

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