COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Entre os dias 16 e 23 de agosto, foi realizado na Colômbia um Encontro para discutir a crescente militarização nas Américas. Confira a Declaração Final do Encontro, e as palavras de miltantes de vários países contra mais essa ofensiva do imperialismo.

 

 

 


Encontro Internacional de Mulheres e Povos das Américas contra a Militarização

Colômbia, 16 a 23 de agosto de 2010

Convocatória e Declaração das mulheres e dos povos das Américas

A Colômbia se vestiu de rostos de mulher, rostos de meninas e crianças, de rostos de homens; os rostos dos povos, que cheias e cheios de esperanças, sonhos, experiências, luta e resistências, participamos, vindos de países como Argentina, Paraguai, Brasil, Peru, Equador, Venezuela, El Salvador, Honduras, Haiti, Guatemala, Cuba, México, Estados Unidos, Canadá, Espanha, França, Itália, Bélgica, Alemanha; e também de vários cantos da Colômbia, de seus estados e de suas regiões, como Nariño, Cauca, Vale, Huila, Chocou, Antioquia, Tolima, Cundinamarca, Bogotá, Magdalena Medio, Bolívar, Santander, Norte de Santander, Arauca, Atlântico; alegremente do Encontro Internacional de Mulheres e Povos das Américas contra a Militarização, entre os dias 16 e 23 de agosto.

Este encontro vê hoje mais do que nunca, como a ameaça de guerra mundial ressoa e se impõe já em diferentes geografias, e a humanidade no meio da encruzilhada para sua sobrevivência e a de outras formas de vida ainda existentes. Este encontro se realiza em um momento no qual o imperialismo norte-americano está desenhando e executando estratégias agressivas de recolonização, para se reposicionar e tratar de recuperar a grande crise de seu sistema capitalista. O espoliamento das riquezas dos povos e a violação aos direitos humanos, usando mão da militarização, são o caminho que definiram, e para isso utilizam os meios de comunicação em massa como arma ideológica e cultural.

A Colômbia é um extenso território com riquezas minerais, petróleo, fontes de energia, água, biodiversidade, flora, fauna, saber tradicional e ancestral dos povos indígenas, negros e camponeses; hoje, é muito cobiçado e explorado pelas empresas transnacionais que só se interessam por seus vergonhosos e inumanos ganhos, para o qual encorajam e fortalecem estes processos de militarização, guerra, desenraizamento, usurpação e morte, daninhos aos povos e seus territórios; esta lógica dominante está sendo estendida e aplicada em toda nossa a América.

O país é formado por uma grande diversidade de povos indígenas, afrodescendentes, mestiços, comunidades camponesas e povoações urbanas, cansadas da guerra e da violência que afeta o país há mais de 50 anos, e que causou quatro milhões e meio de desalojadas e desalojados, e milhares de pessoas assassinadas, desaparecidas e presas. Estas comunidades e povos resistem de maneira valente e criativa, através de processos de soberania de corpos, territórios e alimentos; afirmando-se nas suas próprias e diversas identidades organizativas, culturais, espirituais e de cosmovisão; propondo como eixo a unidade e a busca de implementação da vida digna, de autonomia, autodeterminação e soberania.

As mulheres, protagonistas destes processos, foram e seguem sendo a fortaleza de seus povos, apesar de seguir recebendo o impacto direto da violência, da pobreza, da exclusão e da discriminação, que no caso dos conflitos sociais, políticos, econômicos e armados significa exploração, miséria, violações sexuais, violação à sua liberdade sexual, e a outros direitos humanos básicos, implementando, também, o desenraizamento, a perseguição e a morte.

O encontro possibilitou que se organizassem missões humanitárias de solidariedade para diferentes regiões do país, que permitiram o intercâmbio de experiências, vivências e reflexões entre os participantes e as mulheres, os povos, as comunidades rurais e urbanas colombianas. Nestas visitas se pôde não só entender a realidade concreta, mas dar-lhe rosto e nomes, conhecer aqueles e aquelas que enfrentaram o projeto da militarização e a resistência nos seus territórios e vidas cotidianas, e também os interesses econômicos e geoestratégicos que defendem. Esta oportunidade permite à comunidade internacional continuar denunciando a terrível violação aos direitos humanos, que na Colômbia adquire níveis de perversão em práticas como os falsos positivos, que são vinculações de pessoas inocentes com elementos que justifiquem o assassinato e carceragem, o desaparecimento forçado, e o deslocamento. Com esses fatos, o que se demonstra é que neste país não se está vivendo o pós-conflito, como hoje o assegura o governo.

Durante dois dias foram trocadas experiências de resistência das mulheres e dos povos da Colômbia e do continente; se denunciou o impacto da militarização; se reafirmou a convicção de que estamos cansadas e cansados da opressão, da exploração e da cultura de morte do capitalismo patriarcal e racista.

A partir deste Encontro, com o ânimo coletivo de justiça, respeito e solidariedade continental, falamos ao mundo para reiterar nosso compromisso como mulheres e povos contra a militarização, e nos posicionamos para:

- Lutar por justiça para as mulheres e que se pare a violência, a intimidação, o controle e a utilização das mulheres como bota de guerra.
- Rejeitar com energia a estratégia imperialista dos Estados Unidos para militarizar as vidas, territórios e desejos, na busca por controlar as riquezas dos países e as consciências. Dizemos Fora Bases Militares ianques da América Latina e do Caribe.
- Rejeitar a presença de bases norte-americanas em nossos países e territórios exigindo sua retirada imediata.
- Lutar contra a ingerência de exércitos de ocupação, como a MINUSTAH em Haiti.
- Lutar pelo fechamento das bases militares em toda nossa Abya Ialá, contra os mega projetos de energia, exploração petroleira, mineraria, privatização da água, e a usurpação de territórios que favorecem hoje as grandes empresas transnacionais.
- Rejeitar a ameaça iminente de intervenção militar na Costa Rica, com mais de 7000 efetivos militares e 46 navios de guerra dos Estados Unidos.
- Rejeitar as tentativas de desestabilizar o governo legítimo e as provocações reiteradas contra o povo da República Bolivariana da Venezuela.
- Reiterar nossa solidariedade com a resistência nacional de Honduras, aglutinada no FNRP, que empregam sua política e ação para o projeto de refundação nacional, e na imediata convocação da Assembleia Nacional Constituinte Popular e Democrática. Para isso chamamos, também, os governos, estados e povos do mundo a não reconhecer o regime de Porfírio Lobo, que é o mantenedor do golpe de estado e das políticas de violação aos direitos humanos contra o povo hondurenho, que se mantém em luta.
- Repudiar a criminalização da luta dos povos, que significa morte e repressão contra mulheres e homens e seus processos organizativos.
- Rejeitar a política anti-imigrante que hoje se impõe nos Estados Unidos, fortalecendo a luta contra o muro.
- Rejeitar a nomeação de Álvaro Uribe Vélez para a comissão de inquérito pelo crime cometido com as brigadas de solidariedade com o povo palestino pelo governo israelense.
- Continuar na luta pela liberação dos cinco irmãos cubanos, hoje presos injustamente em prisões dos Estados Unidos.
- Respaldar a ação na República do Congo, da Marcha Mundial de Mulheres para o dia 17 de outubro.
- Acolher o dia 10 de dezembro, como o dia de luta continental contra as bases militares estrangeiras.
-Acolher a Declaração da Assembleia dos Movimentos Sociais, no IV Fórum Social das Américas realizado no Paraguai. Igualmente, a Declaração do I e II Encontros Hemisféricos contra a Militarização de Chiapas e Honduras.
- Nos comprometemos a dinamizar e impulsionar o IV Encontro continental hemisférico contra a militarização.
- Nos vinculamos à Campanha contra a militarização que se articula continentalmente.

Para o caso colombiano chamamos e propomos ao continente e já ao mundo:
- Manter firme a proposta de solução política e negociada ao conflito social e armado interno que possui a Colômbia.
- Fortalecer e reconstruir os movimentos sociais como sujeitos políticos fundamentais para a paz
- Impulsionar, dinamizar e apoiar a organização das mulheres e dos povos, desde o local, regional, nacional e internacional, na recuperação da memória pela verdade, pela justiça, pela reparação e pela não repetição.
- Incentivar a unidade, o fortalecimento da consciência, a organização, a comunicação alternativa e a mobilização como elementos importantes de autonomia luta e resistência.
- Participar e acompanhar a realização do Congresso dos Povos, convocado desde o Mutirão Nacional de Resistência Social e Comunitária, para os dias 8 a12 de outubro de 2010.

Hoje reafirmamos nosso compromisso pela vida digna, a defesa de nossos territórios, da soberania, autonomia, autodeterminação, cultura e ancestralidade. Como movimentos sociais entendemos que a luta contra a militarização e as bases militares é um pilar fundamental para a paz.

Meu corpo é minha casa
Minha casa é meu território
Meu território é minha pátria
Minha pátria é meu continente.

Colômbia, Barrancabermeja - 23 de agosto de 2010.

(Foto: Minga Informativa)

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