COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Teve início nesta sexta-feira, 08 de junho, o oitavo Encontrão da Teia dos Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão, na comunidade camponesa Gostoso, no município de Aldeias Altas (MA). Cerca de 400 lideranças de povos indígenas, quilombolas, quebradeiras de coco babaçu, camponesas, pescadores, sertanejos, entre outras, estão reunidas em apoio à luta desta comunidade, que sofre constantemente com a expansão do agronegócio, que vem ameaçando 37 famílias que sobrevivem do trabalho na terra. “Estamos aqui para resistir na luta” esse foi o relato de um morador do território ao falar sobre o processo de luta incessante dentro de suas terras.

 

(Equipe de Comunicação da Teia / fotos: Andressa Zumpano|Ingrid Barros)

Neste primeiro dia de encontro os povos fizeram suas apresentações, seus relatos e denúncias sobre os conflitos que sofrem em seus territórios e reiteraram a importância da Teia neste processo. “Hoje com a Teia nós tivemos muitos avanços. A teia é tecido, é o bem viver”, enfatiza um morador de Brejo, comunidade que foi sede do sexto encontro, em 2017. O padre Jan Zuffelato, da Diocese de Caxias também veio a Gostoso demonstrar seu apoio à luta da Teia, “a única saída é a saída do Gostoso, a resistência. O pobre nunca faz violência. Eles defendem o que é deles, quando lutam por sua terra eles estão agindo em legitima defesa”, afirma.

Sobre a Teia

A Teia de Comunidades e Povos Tradicionais é uma articulação surgida das lutas populares no campo no Maranhão. Ela envolve centenas de comunidades e realiza encontros desde 2014 em territórios ameaçados por grupos empresariais, fazendeiros, grileiros de terra em situações agravadas ou mesmo ocasionadas pela atuação do Estado brasileiro.

A realização de tais encontros da Teia nos territórios ameaçados incrementam os processos de resistência e insurgência, pautados na autonomia política, fortalecendo a identidade coletiva e promovem ações diretas dos povos envolvidos no aprofundamento de modos de vida historicamente silenciados dos espaços formais de decisão política estatal. Segundo Kum’Tum Gamella, “essa é a coisa bonita no processo da Teia. Quando todas as comunidades se encontram, ninguém precisa dizer qual a comunidade que tem luta porque a Teia só vai para onde tem luta.”

A luta da comunidade camponesa de Gostoso

As famílias camponesas da comunidade sofrem há mais de uma década com ameaças de morte, destruição de roças e vêm de um histórico de despejos forçados realizados pela empresa Costa Pinto em outras localidades em que viveram, como Belém, Queimadas, Cocal, Montabarro, Buriti Corrente, localizadas no interior do Maranhão.

A empresa falida “Grupo Costa Pinto” é a suposta proprietária de um latifúndio que se estende por Codó, Caxias, Aldeias Altas e Afonso Cunha, estimado em mais de 70 mil hectares. Ela começou suas atividades no Maranhão na década de 1970, tendo ido à falência nos anos 1990. Em 2005, o grupo empresarial falido arrendou uma área de 25 mil hectares por 18 anos para a TG Agropecuária. Em 2007, um trabalhador contratado pela TG Agropecuária morreu em função das condições degradantes de trabalho, segundo relatos de camponeses da região. O grupo Costa Pinto tornou-se uma das organizações que realizam uma brutal especulação imobiliária diretamente relacionada com a expansão do agronegócio.

Importante informar que o município de Aldeias Altas possui um dos mais baixos IDHs do país (IDH 0,513, de acordo com o IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), estando na lista dos 100 municípios brasileiros com piores índices de desenvolvimento humano.

“Quanto mais sufocar o povo no campo, mais o povo será escravizado, vai morar na cidade num lote 10x30. Se a gente ceder a gente vai parar na cidade chorando miséria. Lugar bom é onde o povo produz seu alimento de qualidade” nos relata Claudio, uma das lideranças da comunidade de Gostoso.

 

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