COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Por Ariana Frós (Jornalista da CNBB NE5)

Edição: Carlos Henrique Silva (Comunicação CPT Nacional), com informações da CPT Regional Maranhão

Fotos: Ariana Frós, Ribamar Carvalho e Elsilene Lima

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A Igreja Católica no Maranhão, Regional Nordeste 5 da CNBB, realizou nos dias 02 e 03 de agosto a sua 14ª Romaria da Terra e das Águas, na diocese Viana. A Romaria contou com a participação de cerca de 10 mil fiéis que chegaram com as caravanas oriundas das 12 dioceses do Maranhão. O percurso da Romaria totalizou 9km, saindo da cidade de Santa Inês em direção a Pindaré Mirim.

Esta edição teve como tema: “Territórios livres das cercas, dos trilhos e do agronegócio”, e lema: “Vou plantá-los no seu chão, de modo que nunca mais sejam arrancados de sua terra” (Amós 9, 15).

“É um momento de fortalecimento da Igreja, mas sobretudo das comunidades tradicionais, dos povos indígenas, dos povos quilombolas, das quebradeiras de coco, enfim, dos pescadores e pescadoras, de todos aqueles e aquelas que não tem vez e nem voz e aqui podem se expressar. É o Deus da vida que nos acompanha, que nos fortalece e que nos anima nesta caminhada, nesta missão”, destacou dom José Valdeci Santos Mendes, bispo da diocese de Brejo e referencial para as Pastorais Sociais.

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Dom Evaldo Carvalho e dom Valdeci Mendes somam forças na luta pela defesa dos povos originários no Regional Nordeste 5

A 14ª edição da Romaria iniciou com um momento de animação enquanto as caravanas chegavam na praça da Juventude, local da concentração. Em seguida, a Santa Missa, com a presidência de dom Evaldo Carvalho, bispo de Viana, diocese anfitriã, concelebrada por nove dos 12 bispos do Maranhão, marcou o primeiro momento da Romaria.

Em sua homilia, dom Evaldo Carvalho, sob a ótica dos mártires, como profeta Jeremias, que por sua defesa à justiça foi perseguido, processado, açoitado e preso. E de João Batista, que também teve a morte como consequência por sua sede de justiça, pois não temia mostrar toda a sujeira do sistema político/religioso. Ambos foram perseguidos por serem fiéis à missão que receberam de Deus.

“Hoje, muitos irmãos foram martirizados, tombaram defendendo o projeto do reino de Deus. Quando não se respeita a verdade, o número das vítimas da violência só tende a aumentar", pontuou dom Evaldo. 

Na oportunidade, dom Evaldo citou ainda vários mártires dos tempos atuais que morreram na defesa da vida e do meio ambiente, como Chico Mendes, Irmã Doroty Stang, padre Josimo, e padre Ezequiel Ramim.

A luta das minorias

Durante o percurso de 9km, três paradas foram realizadas, com os temas: "A condenação de Jesus e a condenação do povo hoje", "A Solidariedade com Jesus e com o povo hoje" e "A morte de Jesus e os mártires e testemunhas do Reino de hoje". Em cada parada, uma muda de Ipê foi plantada.

Ao longo do caminho, os povos indígenas, os quilombolas, e os ribeirinhos foram ouvidos em suas dores. Nas falas, as comunidades e territórios quilombolas, indígenas e camponeses expuseram situações de violência e ameaças que estão sofrendo devido aos projetos de morte que estão sendo implementados pelo governo do Estado do Maranhão, com destaque para projeto do porto Grão Pará, que está previsto para impactar mais de 80 comunidades quilombolas da região da Baixada, região onde aconteceu a Romaria.

Participaram desse momento: Lindalva Guajajara, da Terra Indígena Pindaré; Valdivino Silva, do Quilombo São Benedito dos Colocados; Antônio Jean (gato preto), do Quilombo Onça de Santa Inês; Caw Akroá Gamella, do Território Indígena Taquaritiua, em Viana; Gilberto Lima, do Conselho Pastoral de Pescadores; Gato Félix, do Assentamento Estrada do Arroz em Imperatriz; Lenora Rodrigues, da Comissão Pastoral da Terra do MA, entre outros líderes.

A cada relato um grito de socorro se ouvia. À luz da fé e do magistério do Papa Francisco, a Igreja precisa ter consciência do que é sagrado e denunciar os desenvolvimentos que concentram riquezas para poucos e que prejudicam o meio ambiente.

Márcia Palhano, da Coordenação Regional da CPT Maranhão, destaca que o momento foi de muita comunhão e da presença dos trabalhadores e trabalhadoras em comunidades acompanhadas pela CPT que estão em situação de conflito: "Foi uma romaria muito linda, com celebração da resistência e da luta das comunidades, mas também um momento de fazer denúncia e reafirmar nosso compromisso com as comunidades que estão em luta, em defesa de seus territórios, identidades e modos de vida. Estava muito presente a fé, a celebração, a partilha e o fortalecimento sobretudo do compromisso e defesa da vida nas comunidades."