COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Foto: João Zinclar.Em clima de muita fé, uma procissão acompanhada pela cruz, sementes crioulas, símbolos do semiárido, marcou o início dos trabalhos da tenda das experiências do Bioma Caatiga. Estavam presentes cerca de 200 pessoas, entre trabalhadores e trabalhadoras, além de agentes da CPT, de diversos biomas que acompanharam a apresentação das diversas experiências.

A caatinga é o bioma mais jovem do Brasil e se destaca por um povo de muita fé e luta, marcado pela perseguição dos coronéis, empresários e fazendeiros. Por ter uma religião popular forte, apareceram figuras importantes no processo de organização da luta popular, como o padre Ibiapina, sendo o primeiro idealizador das cisternas de placa e incentivador do trabalhado coletivo. Padre Cícero, de Juazeiro do Norte (CE), que chamou atenção para a preservação da caatinga, assim como Antonio Conselheiro, que fundou a comunidade de Canudos, uma comunidade de resistência e luta. Depois destas lutas, começa a organização de diversos movimentos na região. Dessa forma, o povo cria consciência, não se conforma com as injustiças enfrentadas e vai à luta.

A partir de 1909 surge o DIOC, hoje DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), que construiu muitos açudes, onde o controle da água é feito pelos coronéis e políticos. Neste período, Celso Furtado já anunciava que “é preciso aprender a conviver com o semiárido”.

Reagindo à concentração da água e da terra, que ameaçava o modo de vida camponês, surgem grupos organizados como as CEB’s, e acontece a retomada e organização dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais (STR´s) e as ocupações de latifúndios por movimentos socais. Dessa forma, são fortalecidas as experiências de convivência com o semiárido, como as mandalas, quintais produtivos, entre outros, onde se mostra a resistência do sertanejo, que é marcado pela fé e pela cultura da festa, música e culinária variada.

Experiências

A apresentação da experiência de convivência com o semiárido do Assentamento Serra Branca/Serra Vermelha, mostrou um povo simples que vivia em um clima de muito sossego na Serra da Capivara, no estado do Maranhão. Com o surgimento do projeto de Assentamento Estadual reconhecido pelo INCRA, foi criado um corredor ecológico que tirou a paz daquelas famílias que viviam há mais de cem anos na área.

Durante este período os trabalhadores foram perseguidos e ameaçados por empresários e pelo governo, que alegavam a depredação da natureza pela comunidade. Com medo de perder suas terras, seu jeito de viver, os trabalhadores se organizaram e, com o apoio da CPT, fundaram sua Associação, promovendo manifestações para que o governo não desapropriasse os mesmos. O resultado das ações foi o acordo com o governo, no qual a comunidade assumiu o compromisso de cuidar do meio ambiente e até melhorá-lo. A comunidade, então, foi beneficiada com moradias, fábrica de beneficiamento de frutas, criatório de galinha, apicultura, etc.

Quintais produtivos

As mulheres da comunidade do Cariri, no estado do Ceará, seguiram os conselhos do padre Cícero, que alertavam as famílias daquele estado sobre a importância de se plantar árvores frutíferas típicas e hortaliças aproveitando o espaço que cada família e comunidade possuía, como os próprios quintais. Essa experiência tem ajudado na soberania alimentar, pois a própria comunidade produz seu alimento, de forma agroecológica, diminuindo o peso no bolso e, ainda, tendo a possibilidade de comercializar o excedente.

Essa iniciativa, que teve o apoio da CPT, se expandiu por diversas comunidade do Ceará e passaram a receber a visita de pessoas de outros estados para conhecerem esse trabalho.

Outras experiências foram contadas, como a dolorosa luta do povo de um antigo fundo de pasto, situado no município de Casa Nova (BA), que desde 1850 viviam tradicionalmente da agricultura de subsistência, criação de caprinos, ovinos e bovinos, tudo de forma coletiva. Nestes últimos anos a paz não tem acompanhado esse grupo. São diversas as ameaças dos empresários da “Camaragibe”, que querem tomar a terra dos posseiros. Já foram feitas diversas denúncias e quase nada foi feito a favor dos trabalhadores. Foi preciso um trabalhador ser assassinado para que os órgãos do governo pudessem fazer alguma coisa pelo povo. Graças ao apoio da CPT de Juazeiro (BA), diversas entidades sociais da região têm conseguido colocar em pauta a luta dos trabalhadores e diversas manifestações sociais.

Na apresentação das experiências pudemos observar o quanto nosso povo é sábio. A quantidade de vivências compartilhadas nesta tenda mostrou que mesmo sem o apoio de políticas públicas, é possível conquistar bons resultados, o sistema de desenvolvimento, em boa parte, é coletivo, e os custos aplicados são baixos.

Notamos que as experiências são grandes iniciativas de luta pela permanência na terra, de amplo conhecimento de suas realidade e de tentativa de mudança de mentalidade, além da ampliação possibilidades econômicas para a comunidade e a permanência da juventude da terra. Conclusão: “O semiárido a mudança nasce dentro das pessoas!”.

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