A polícia do Pará já tem indícios dos autores do assassinato dos ambientalistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, ocorrido na manhã de terça-feira, em uma estrada vicinal que dá acesso ao assentamento agroextrativista Praialta-Piranheira, a 45 quilômetros de Nova Ipixuna, no sudeste do Estado. Alguns nomes de suspeitos foram checados, mas a polícia não revela detalhes para não prejudicar a investigação. Moradores da comunidade Maçaranduba 2, onde o casal residia, já foram ouvidos e forneceram pistas sobre possíveis mandantes do crime e os pistoleiros. 

(jornal Diário do Pará)

O casal foi morto quando se dirigia de motocicleta à sede do município. Foram alvejados com vários tiros de escopeta e revólver calibre 38, disparados por dois pistoleiros que se encontravam de tocaia dentro do mato. Os pistoleiros cortaram uma das orelhas de José Cláudio e levaram como prova do crime.

“Eu defendo a floresta em pé e seus habitantes, mas devido esse meu trabalho sou ameaçado de morte pelos empresários da madeira, que querem derrubar tudo”, denunciava José Cláudio em um vídeo gravado durante um encontro de ambientalistas em Manaus (AM), no ano passado. Ele dizia na gravação que a qualquer momento poderia “aparecer morto”, porque vivia com uma “bala na cabeça”. José Cláudio foi o primeiro presidente da associação do assentamento e foi sucedido na presidência da entidade por sua mulher, Maria do Espírito Santo.

O casal, por diversas vezes, interditou estradas de acesso aos assentamentos, parando caminhões de madeireiros dentro da reserva. Depois de anotar as placas, encaminhavam as denúncias ao Ibama e ao Ministério Público Federal. Eles lideravam 300 famílias. No final do ano passado, a dupla escapou de uma emboscada. Pistoleiros foram até a residência do casal para matá-los, mas não os encontraram. A Comissão Pastoral da Terra (CPT) denunciou em seu caderno de conflitos agrários que José Ribeiro e Maria estavam em uma lista de 58 pessoas marcadas para morrer no Pará.

HEDIONDO

O secretário de Segurança Pública, Luiz Fernandes, disse ontem em Marabá que cerca de 50 policiais civis e militares estão na região do crime fazendo buscas pelos criminosos. A Polícia Federal também vai entrar na investigação. Fernandes tratou do assunto com o delegado Roberto Nunes Teixeira, da PF de Marabá. Por ordem do Ministério da Justiça, a PF fará uma apuração própria. Para Fernandes, isso não impede a cooperação. “O trabalho integrado agiliza o processo investigatório”.

O delegado José Humberto de Melo Junior, titular da Delegacia de Conflitos Agrários de Marabá, preside o inquérito e é a fonte oficial de informações sobre a investigação dos crimes, classificados de “hediondos” pelo governador Simão Jatene. Ele determinou uma “reação enérgica” ao que chama de “atitude irracional” dos responsáveis pelas mortes.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Regional Norte 2, condenou o crime, afirmando em nota que o episódio “escancara a deficiência do Estado Brasileiro em defender os filhos da terra que lutam em favor da vida”. A entidade lembra que em 2001 foi realizada, no município de Marabá, uma audiência pública promovida pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal. Durante essa audiência, José Cláudio informou abertamente que estava ameaçado de morte.

A CNBB diz que recebe muitas denúncias de pessoas ameaçadas de morte. Entre elas, estão missionários, bispos, padres, irmãs e leigos que atuam no Pará.

Hilário Lopes Costa, coordenador estadual da Comissão Pastoral da Terra (CPT), afirma que no ano passado a comissão fez 30 casos de denúncias sobre pessoas que estavam sendo ameaçadas de morte no Estado.

OUVIDOR NO PARÁ

O ouvidor agrário nacional, desembargador Gercino Filho, está no Pará desde ontem para acompanhar as investigações sobre o assassinato, por determinação do ministro do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence. Ele reúne hoje a Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo dentro do projeto Praialta-Piranheira. Até sexta-feira, Gersino Filho preside reuniões com a Polícia Federal, Ministério do Meio Ambiente, Ministério Público Federal, Ibama, Incra, Delegacia de Conflitos Agrários do Pará e produtores rurais do projeto. (Diário do Pará)

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