Foto: João Zinclar.Em 2005, durante manifestação contra a instalação de usinas de açúcar no Pantanal, o ambientalista Francisco Anselmo Barros ateou fogo no próprio corpo na tentativa de barrar o empreendimento. A atitude desesperada conseguiu interromper, por um breve momento, a instalação das empresas, mas os grandes projetos continuam avançando nas áreas em que o bioma está presente.

A história de Francelmo, como era conhecido, foi contada na abertura da apresentação das experiências dos biomas Cerrado e Pantanal, no terceiro dia do III Congresso Nacional da Comissão Pastoral da Terra exemplifica a dimensão do quanto tem se agravado as questões ambientais nas regiões em que esses biomas estão presentes. O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro e um dos mais ameaçados, 57% da sua área de cobertura original já foi devastada. O avanço das monoculturas de soja, eucalipto e mais recentemente da cana, tem sido responsável pelo aceleramento da devastação.

“Outro problema sério é a quantidade de agrotóxico que é jogado nas plantações pelos aviões, e que se espalham pelas nossas terras”, reclama o agricultor Raimundo Rocha, da comunidade Sonhé, em Loreto, no Maranhão. As agressões e ameaças pelas quais a sua comunidade tem passado foram apresentadas junto com outras cinco experiências na tenda do Cerrado e do Pantanal. Além do avanço das monoculturas, Raimundo aponta outra grave ameaça: a construção de uma barragem no rio Parnaíba, que deve prejudicar não apenas as 97 famílias do povoado em que vive, mas também deve impactar outras 5 mil famílias na região. “Se essa barragem acontecer, para onde vamos?”, questiona Raimundo.

Em meio aos vários problemas que os ameaçam, a comunidade de Sonhé está se mobilizando e mantém a esperança de se manter na sua terra e de preservar o Cerrado. Viveiros de plantas nativas e farmácia de plantas medicinais são algumas das iniciativas que estão sendo desenvolvidas pela comunidade.

Ameaça hídrica

Conhecido como “Pai das águas”, o Cerrado abriga as nascentes das três principais bacias hidrográficas brasileiras e a construção das barragens é uma ameaça grave à vida dos rios.  Na divisa entre os estados do Tocantins e Maranhão, nas bacias dos rios Araguaia/Tocantins, a construção da barragem de Estreito mostra a dimensão e a quantidade de empreendimentos nos rios do Cerrado.

Se a barragem de Estreito for concluída, será a sexta a ser construída na bacia que tem a ameaça de mais três barragens. A obra impactará cerca de três mil famílias, em 12 municípios dos dois estados. Muitos dos impactados são populações tradicionais, que não são reconhecidas pelo consórcio como possíveis atingidos.

Além dos impactos nas populações, a extinção do Cerrado é uma ameaça direta ao bioma do Pantanal. Considerado pela Unesco/ONU como patrimônio da humanidade, o Pantanal é a maior área alagada de água doce no mundo e sofre também com o avanço das monoculturas e das barragens, já que muitos dos rios que alimentam esse bioma nascem no Cerrado.

Mas não há apenas lamentos. Na cidade de Juti, no Mato Grosso do Sul, uma iniciativa trouxe vida nova ao bioma conhecido como savana brasileira. A partir da mobilização da comunidade e do apoio de várias entidades como a Comissão Pastoral da Terra, uma das nascentes do córrego Santa Luzia voltou a ter água. O trabalho de três anos, que envolveu o replantio de espécies nativas e a tirada de gado da área, conseguiu reviver uma nascente que muitos já consideravam morta. “Passamos a ser uma ilha de preservação em meio ao avanço das monoculturas na região”, relata orgulhoso o agricultor e agente da CPT Wagner José da Rocha.

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