COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Nos dias 9 e 10 de julho se realizará a 7ª Feira de Sementes Crioulas e Produtos Agroecologicos de Juti/MS, na cidade de mesmo nome, já conhecida tradicionalmente como a “Feira de Juti”; atividade encaminhada anualmente mediante parcerias interinstitucionais.


A realização é da Comissão Pastoral da Terra (CPT/MS) e este ano conta com o apoio e a organização das seguintes entidades: Cooperfamiliar Juti/Amambaí, Prefeitura Municipal de Juti, Câmara Municipal de Juti, Embrapa Agropecuária Oeste, Agraer, Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), SDT/MDA, Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (SINTRAF/Juti), Escola Estadual 31 de Março, Escola Municipal Doraci de Freitas Fernándes, Jovens Rurais e Urbanos de Juti, e a Associação de Produtores Orgânicos de Mato Grosso do Sul (APOMS).

Com o slogan “a agricultura familiar mostrando seu potencial criativo”, a Feira oferecerá as seguintes oficinas: integração agricultura e pecuária; alimentação do gado leiteiro na seca; educação ambiental; educação em solo; apicultura racional; confecção de artesanato com matéria prima do cerrado; e aproveitamento de frutos do cerrado.

Histórico

A Feira de Juti, segundo estudo realizado pela tecnóloga em agroecologia Rosangela Pedrosa, agente da CPT/MS, é uma ideia que surgiu a partir de um curso de formação sobre Experiências Agroecológicas, organizado pela CPT/MS. Desde seu início, a temática fundamental da Feira gira em torno da questão da troca de experiências entre pequenos agricultores familiares. A primeira feira aconteceu no Dia do Agricultor, em 25 de julho de 2005.

O estudo em questão assinala que a CPT, no seu trabalho pastoral no Estado, sempre se manifestou com preocupação pelo acelerado processo de dependência que o modelo de agricultura agro-empresarial conseguiu impor sobre a pequena unidade camponesa. O primeiro, baseado no alto consumo de insumos e produtos químicos, incluindo as sementes híbridas e transgênicas, ao ser imposto ou incorporado pelo segundo modelo, colocou em risco até a própria soberania alimentar das famílias camponesas. A tecnóloga revela que a CPT, no seu trabalho pastoral junto aos camponeses, percebeu que o novo modelo tecnológico de agricultura produzia uma acelerada deterioração das comunidades. Como exemplos são citados a “degradação do solo, erosão, compactação, destruição ambiental, redução da biodiversidade, dependência econômica, diminuição da renda, aumento dos custos de produção, descapitalização, êxodo rural e graves problemas de saúde”.

Produzir as próprias sementes

Um dos principais objetivos e desafios da Feira de Juti, desde seu início, é o resgate de uma ancestral tradição camponesa: cuidar, conservar, proteger e reproduzir as sementes crioulas. Este patrimônio da humanidade já vinha sendo objeto de um violento processo de subtração por parte do projeto agro-empresarial (agronegócio), nacional e internacional. A Feira de Juti se insere somando-se à reação, cada vez mais abrangente, de defesa das sementes crioulas. A ação de defesa já vinha crescendo em muitas partes do planeta, sobretudo por conta das mobilizações dos movimentos sociais, em particular do campo. No aludido processo de saque, as sementes passaram ser geneticamente modificadas, concentradas pelas multinacionais, e usadas para gerar exclusivamente lucro e, consequentemente, destruição no campo, através do uso intensivo de venenos e “aproveitamento” extensivo da terra com o monocultivo.

Com os argumentos de uma suposta “segurança alimentar no mundo” e o “desenvolvimento“ a qualquer custo, as sementes crioulas ficam expostas à beira da extinção. Focada em mostrar as experiências da agricultura orgânica-agroecológica, e as formas de diversificação e produção das próprias sementes, a Feira de Juti se constitui, já a partir da primeira experiência, num importante espaço alternativo de comercialização solidária e troca de sementes crioulas e produtos da agricultura familiar, segundo Rosangela Pedrosa.

“Uma das grandes preocupações era tornar o agricultor e a agricultora, grandes protagonistas da Feira. Eram eles os que iriam contribuir com a apresentação de seus produtos e suas sementes. E era com a troca de sementes e de experiências que o objetivo estaria sendo atingido. A Feira sai para buscar e despertar o interesse de outros pequenos agricultores, e assim conseguir multiplicar as experiências parecidas em outras unidades de produção”; enfatiza a agente da CPT/MS.

Participação indígena

A participação indígena nas feiras de Juti tem muita importância e lhe outorga uma simbologia particular. As comunidades guarani sempre apresentam uma grande variedade de sementes crioulas. Conta o estudo que na 1ª Feira teve destaque a aldeia indígena de Caarapó, que apresentou o projeto Poty Reñoi (broto em flor), voltado ao cultivo orgânico.

A pesquisa referida conclui que a Feira de Juti “fornece evidências de que é possível mudar a matriz tecnológica da pequena unidade familiar camponesa de produção, com tecnologias adaptadas; entre as quais a diversificação, a reprodução de sementes, a comercialização solidária e direta ao consumidor (a), baseada nos princípios e fundamentos agroecológicos, constituem o rumo a seguir em busca da sustentabilidade social, econômica e ambiental, no campo, na sociedade e no mundo”.

É possível expor, finalmente, que a 7ª Feira de Sementes Crioulas e Produtos Agroecologicos de Juti/MS, na sua edição deste ano, exibirá de novo suas cores de vida e de resistência, contra a voracidade dos transgênicos e dos venenos do agronegócio empresarial.

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