COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

No final da tarde de ontem, 16 de junho, foi promovido um debate entre representantes da Via Campesina e de organizações da sociedade civil com o presidente do PNUMA, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Achim Steiner, sobre economia verde, a proposta da ONU e as reais implicações desta na vida das populações do mundo.


Larissa Parker,advogada da organização Terra de Direitos e membro do coletivo Carta de Belém, inicou o debate questionando o presidente do PNUMA sobre exemplos paupáveis de várias partes do mundo em que a implantação da economia verde se mostra danosa. A financeirização e mercantilização do meio ambiente torna-o um ativo, um título no mercado, ficando sujeito à ação especulativa. Sendo assim, como garantir, dentro da economia verde, a conservação ambiental, já que sua escassez elevará seu valor de mercado?

Larissa questionou, ainda, a engenharia de novas tecnologias propostas pela ONU, como uma forma de manter o colonialismo e o discurso da erradicação da pobreza, sem falar em distribuição de riquezas e de terras. Além disso, esse modelo proposto pela ONU vem a ser uma nova roupagem da tão falada revolução verde, que prometia o fim da fome com as tecnologias desenvolvidas de sementes resistentes e novos pesticidas, e o que se viu foi a continuidade da fome, o endividamento das famílias camponesas que passaram a comprar esses produtos, o envenenamento da comida e, até mesmo, a morte de camponeses e camponesas, principalmente na Índia, desiludidos com essa forma de produção. “As alternativas estão acontecendo, são visíveis, é preciso que a ONU olhe para elas, olhe para os povos que aqui estão reunidos, e para as experiências em vários territórios que aqui estão representados”, finalizou Parker.

Já Edwin Vásquez, representante da COICA, organização indígena da bacia amazônica, do Equador, interpelou o representante da ONU dizendo-lhe o que para eles significaria economia verde. Uma economia verde, com características limpas como querem remeter a ela as Nações Unidas, seriam seus territórios e o que produzem neles, e não as empresas petrolíferas, a produção de carvão ou a mineração. “Para nós, povos indígenas e sem terra, a economia verde  não é a cor do dinheiro, é a cor da nossa Amazônia”, completou Vásquez.

Juan Herrera, da Via Campesina, ressaltou a importância da luta dos povos camponeses contra esse modelo proposto, principalmente, para beneficiar os países ricos e o capitalismo. Segundo ele, a Via Campesina vem lutando contra as mudanças climáticas, provocadas pelo modelo de desenvolvimento do capital, e contra a fome, que também é resultado da ganância do mercado e da não distribuição de terras e riquezas. Todo esse trabalho da Via Campesina é contrário às soluções propostas pelo capitalismo, que são sempre elaboradas com a finalidade de que o capital possa sempre crescer mais. Juan aproveitou a ocasião para reforçar o processo de luta da Via Campesina, “nós da Via Campesina vamos continuar nas ruas lutando por todos os povos do mundo. A ONU propõe a massificação do uso de transgênicos e agrotóxicos, e nós lutamos por uma alimentação saudável para o nosso povo, e que todos tenham acesso a ela”.

As interpretações da economia verde segundo a ONU

Segundo Achim Steiner existem muitas interpretações diferentes para economia verde e formas diversas de lidar com ela. Ele afirmou não discordar dos questionamentos e análises feitas até o momento sobre o assunto e assumiu que a ONU também ficou frustrada com o pouco avanço após a Eco 92. De acordo com ele, o pensamento econômico domina todas as nações, pode não dominar em algumas comunidades, mas a ótica das nações é a econômica.  Afirmou, ainda, que o relatório do PNUMA como um todo seria uma crítica aos mercados que não conseguiram aplicar o desenvolvimento sustentável, definido como prioridade na Eco 92.

Sobre as novas tecnologias Steiner destacou, “nossa visão é permitir que as pessoas possarm ver o desenvolvimento sustentável como algo diferente do que foi mostrado até agora. As tecnologias de energia renovável e transgênicos são boas ferramentas, mas que foram apropriadas por grandes multinacionais. O caminho foi feito de cima para baixo. As economias não podem ser totalmente controladas por um lado ou por outro, elas devem conviver e não ser dominada somente pelo mercado ou pelos governos. Ao falar da economia, não falamos do modelo do passado, mas do futuro”.

Já Pat Mooney, da organização ETC Group, frisou que os governos estão no  lugar errado. Segundo ele, já que é aqui no espaço da Cúpula que a economia se torna realidade, é aqui que estão as discussões importantes.

A crise financeira que tem atingido boa parte do mundo foi causada pelos sistemas financeiros. A crise das mudanças climáticas foi causada pelas tecnologias que destruíram o meio ambeinte. Agora, de acordo com Mooney, querem juntar essas duas crises e buscar uma solução. Crises essas que o próprio mercado criou. “Como a economia verde vai fazer uma nova tecnologia que resolva o que a outra destruiu? Essas tecnologias não são verdes e não funcionam para nós, e quando digo isto não estou dizendo que elas não são operativas, mas que não nos servem”, questionou ele. “Não podemos permitir que esses que destruiram o sistema financeiro, destruam o meio ambiente”, enfatizou.

O representante da CUT, Arthur Henrique, destacou que não se pode aceitar um modelo que mercantiliza os bens comuns. “Precisamos mudar o modelo de produção e consumo no mundo. A própria ONU já admitiu que o modelo não deu certo’, destacou. Os pilares ambiental e social ficaram para último plano nos debates mundiais. O trabalho verde, segundo Arthur, é o trabalho decente, não é apenas combater o trabalho escravo e o trabalho infantil. “Não queremos só sermos ouvidos, queremos discutir juntos as saídas para o desenvolvimentos sustentável”, encerrou ele.

Pablo Solón, da Global South, interpelou Steiner questionando porque ele não estava sendo sincero e não assumiu realmente os interesses do capital sobre a economia verde. Segundo ele, a economia verde é para que os países ricos continuem seu modelo de desenvolvimento, através de políticas compensatórias como as REED’s e o crédito de carbono. E concluiu criticando o modelo econômico preterido pelos países ricos, “o modelo econômico não pode estar embasado na exploração indiscriminada da natureza. Não necessitamos seguir crescendo eternamente, precisamos redistribuir as riquezas e os recursos. Isso a economia verde não diz”.

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