COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Após ler os nomes dos 19 sem terras mortos no dia 17 de abril de 1996, na curva do S, em Eldorado dos Carajás, Pará, a juventude, reunida durante uma semana no Acampamento da Juventude Oziel Alves, uma das vítimas do Massacre, reproduziu no meio da PA 150, o ataque dos policiais contra o grupo de sem terras naquele dia.

Cristiane Passos*

O ato comoveu as centenas de pessoas presentes, mas em especial, os sobreviventes do Massacre. Os gritos de horror, medo e dor dos jovens relembraram o que os sem terra passaram naquele 17 de abril de 1996.

Há 11 anos a juventude dos movimentos sociais realiza o Acampamento da Juventude Oziel Alves, na curva do S, para fazer memória do massacre, na semana do 17 de abril. Esse ano, contudo, por serem os 20 anos do massacre, o acampamento foi maior, e contou com a participação de jovens de várias partes do país.

Um teatro de bonecos encenou o julgamento dos responsáveis pelo massacre, policiais e fazendeiro, retratando a inoperância da justiça nesses casos e a permanente impunidade em crimes em que as vítimas são os povos do campo. Dos 155 policiais que participaram da ação, Mário Pantoja e José Maria de Oliveira, comandantes da operação, apenas foram condenados a penas que superaram os 150 anos de prisão. José Maria de Oliveira permanece custodiado no Centro de Recuperação Especial Anastácio das Neves. Mário Colares Pantoja está em recolhimento domiciliar para tratamento de saúde. Os demais policiais militares que foram a julgamento foram absolvidos dos crimes.

Além da mística da juventude, um Ato Ecumênico também foi realizado no local, com a presença do bispo local e de pastores e pastoras de Igrejas Evangélicas. O bispo de Marabá (PA), dom Vital Corbellini, destacou a legitimidade da luta pela terra, por ser ela direito de todos e não de alguns apenas. “Nós fazemos memória de 20 anos de massacre de Eldorado dos Carajás. A memória diz que muito sangue foi derramado naquele dia, por causa da luta pela terra. A terra é um dom de Deus. Deus criou a terra para ser de todos e não apenas de algumas pessoas”, afirmou dom Vital.

Ainda de acordo com o bispo, “o fato é que a violência no campo continua com índices bem altos de mortes de agricultores e de agricultoras, sobretudo na região Norte, em especial no sul do estado do Pará. É preciso lutar pela Reforma Agrária e pela paz no campo. Na diocese de Marabá temos muitos acampamentos e assentamentos de colonos. Como Igreja estamos ao lado dessas pessoas simples, pobres que desejam terra para ter vida digna e também buscam a vida comunitária no seguimento a Jesus Cristo”.

Representantes do MST, de sindicatos e partidos políticos, sindicalistas, bem como representantes de diferentes organizações que compõem a Via Campesina na África, na Europa, na Ásia e no Brasil, fizeram memória das lutas no campo, dos 19 sem terra mortos, e de tantos e tantas que tombaram na luta por um pedaço de chão e pela garantia de seus direitos. Paulo César, da coordenação executiva nacional da CPT, destacou que “a onda de assassinatos e ameaças de morte que perpetuam no Pará e que está se agravando, cada vez mais, na Amazônia principalmente, nos assusta pelo preço que as comunidades do campo e da cidade estão pagando pelo dito ‘desenvolvimento’, que diz gerar riquezas através da exploração de mineradoras, hidrelétricas, agronegócio e etc, mas segue seu caminho sob o sangue e o sacrifício de milhares de famílias expulsas ou perseguidas até a morte, concentrando cada vez mais terra e renda. Buscando ser fiel aos 19 companheiros e companheiras assassinados no dia 17 de abril de 1996, na Curva do S, Pará, buscamos força nas palavras de Pedro Casaldáliga: ‘que a memória dos Mártires não nos deixe dormir em paz’”.

Além disso, Paulo César destacou a importância da juventude se reunir para fazer memória de Oziel Alves, o jovem assassinado naquele dia, dando continuidade à sua luta, a luta pela reforma agrária. Assista abaixo um pequeno trecho dessa fala:

 

*Assessora de Comunicação da Comissão Pastoral da Terra (CPT) – coletivo de comunicação da Conferência Internacional da Reforma Agrária

*Vídeo Cristiane Passos / fotos Geuza Morgado

 

 

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