COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

A saída está condicionada ao cadastro das famílias, a vistoria da fazenda e levantamento dominial do senador, e a desapropriação de 18 mil hectares. Batizado de Acampamento Dom Tomás Balduino, as famílias estavam no local há mais de seis meses


 

(CPT com informações da Página do MST e G1 Goiás)


As 3 mil famílias Sem Terra  do Acampamento Dom Tomás Balduino, localizado na fazenda do senador Eunício de Oliveira (PMDB-CE), no município de Corumbá de Goiás, começaram a ser despejadas na manhã desta quarta-feira (4). As famílias estavam acampadas no local há mais de seis meses. A ordem de despejo foi expedida pelo juiz da Comarca de Corumbá, Levine Artiaga, que é acusado pelo movimento de ser alinhado com o senador.

  

A saída pacífica dos Sem Terra, no entanto, foi acordada em reunião e está condicionada ao governo do estado de Goiás cadastrar todas as famílias acampadas, fazer a vistoria da fazenda e levantamento dominial do senador, além do compromisso de desapropriar 18 mil hectares na mesma região de Corumbá, Cocalzinho e alguns outros municípios vizinhos para que as famílias sejam assentadas em até 60 dias.

 

A desocupação da área está prevista para durar entre três e quatro dias. Ao término do primeiro dia do despejo, segundo informações do portal G1 Goiás, a Polícia Militar (PM) relatou que 30% de todo o acampamento havia sido desmontado.

 

À reportagem do G1, José Valdir Misnerovicz, da coordenação nacional do MST e um dos coordenadores da ocupação, ressaltou que apesar da desocupação, a luta para transformar o latifúndio em assentamento continua. “Tivemos muitas negociações, mas neste momento decidimos, por unanimidade, respeitar a decisão judicial e desocupar a propriedade. Mas esse local ainda será sede do maior acampamento de reforma agrária deste país".  

 

Todavia, ao portal G1, Misnerovicz afirmou que considera uma injustiça a retirada das famílias da fazenda, e que espera que elas possam colher os cerca de 200 hectares de lavoura agroecológica na fazenda. "Um grupo se reuniu com o senador em Brasília e ele garantiu que vai permitir que a gente acesse a área para a colheita. Registramos mais de 22 variedades de cultura, dentre elas hortaliças, arroz, milho, feijão. Se as famílias saírem sem esses produtos, os prejuízos serão muito grandes".

 

Com o despejo do Acampamento Dom Tomás Balduino, as 3 mil famílias se dividirão em outros três acampamentos na região, em Corumbá de Goiás, Alexânia, e Vila Propício. 

 

Negociações

Numa reunião realizada na terça-feira (3) entre o ministro do Desenvolvimento Agrário (MDA), Patrus Ananias, e dirigentes do MST, foi informado que Eunício de Oliveira abriu a possibilidade de negociação da área com o governo, a um custo de R$ 400 milhões por todo o latifúndio.


Caso isso ocorra, os Sem Terra já anunciaram que tem a proposta de transformar a sede da fazenda numa universidade popular, com ênfase em produção, agroecologia e cooperação, em parceira com Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Federal de Goiás (UFG).

 

Entenda o caso

No dia 31 de agosto de 2014, 3 mil famílias Sem Terra ocuparam a Fazenda Agropecuária Santa Mônica, um latifúndio de mais de 21 mil hectares. A área ocupada pelas famílias faz parte de um aglomerado de 88 propriedades que o senador Eunício de Oliveira declarou possuir no estado de Goiás à Justiça Eleitoral em 2014, ao concorrer ao governo do Ceará. As áreas estão localizadas nos municípios de Corumbá de Goiás, Alexânia e Abadiânia, entre Goiânia e Brasília. Segundo denúncias de agricultores, as dezenas de propriedades foram adquiridas pelo parlamentar após diversas formas de pressão.

 

Além do MST considerar as terras improdutivas, o movimento também considera suspeita a forma como o político conseguiu comprar quase dois terços da área do município de Alexânia e formar um latifúndio nas proporções da Santa Mônica.

 

No ano passado, após a ocupação da fazenda, não demorou muito para que as milhares de pessoas do Acampamento Dom Tomás Balduino – nome dado em homenagem ao bispo emérito da Cidade de Goiás e um dos fundadores da CPT e Cimi, falecido em 2014 – transformassem aquelas terras abandonadas num imenso laboratório popular de agroecologia.

 

Nos mais de 200 hectares ocupados pelas famílias Sem Terra, foram resgatadas diversas variedades de sementes crioulas, sistemas de controle biológico, consórcios de culturas, princípios de alopatia e mais uma gama de inovações foram sendo desenvolvidas, e mais de 22 culturas diferentes passaram a ser cultivadas.

 

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